ÚLTIMA CHAMADA - BAILE NO LICEU

A campainha tocou. Útima chamada. Corro para a sala. Sento-me suado no banco encostado à janela virada ao Sol. Lá atrás, o chefe de turma, um matulão de Algés, arrota abundantemente com cheiro a alho soprado para enjoar a sala. O Prof. Sequeira entra pequenino, suportado num bigode fino e escovado a preceito. A turma levanta-se em esforço. O cheiro a alho aumenta. Física. Que estucha! Rabisco desenhos cubistas no caderno aos quadradinhos, simulando tirar apontamentos. Cheiro a alho que provoca arrepios. No ano passado uma turma inteira foi expulsa por atirar pedras da calçada ao padre Andrade, na aula de Religião e Moral. Uma tentativa falhada de o tornar mais um mártir cristão que resultou numa punição inquisitorial para todos. De repente pareceu-me boa ideia fazer o mesmo. O alho está insuportável. Campainha toca. Fuga precipitada. Jogos de carica nos pátios cobertos. Futebol no meio das urtigas. Um cigarrito escondido no pátio das tílias. O reitor, conhecido por "dez para as duas", devido à posição horária das pernas, fiscaliza a tamanho das batas das miúdas, a dimensão dos decotes, a utilização abusiva de jeans, o cabelo que exorbite da orelha masculina. Por via das tosses, dois amigos meus assaltaram-lhe o gabinete à noite e deixaram-lhe um cagalhão fumegante em cima da secretária.

A campainha toca de novo e eu acordo em "déjà-vu" no meio do corredor do Liceu de Oeiras. De repente estou com 58 anos a organizar "bailes de finalistas"! Ainda acabo a chuchar na chupeta. O Baile no Ginásio é amanhã, às 22 horas. Vejam lá se aparecem que isto dá um trabalhão.