É possível traçar um quadro aproximado da distribuição das diversas "nações" ameríndias que controlavam o espaço e o sertão brasílico, no princípio do séc. XVI.
A orla marítima, no sentido norte-sul, era ocupada pelos seguintes grupos tribais: os Aruaques, desde a foz do Oiapoque até à costa paranense, incluindo o delta amazónico; os Tremembés - "alagadiço" - pertencentes á família Cariri e ao tronco Macro-Jê, fixados no Maranhão-Piauí, estendendo-se até ao rio Gurupi (limite sul do Pará).
A partir da foz do Jaguaribe (Ceará) entrava-se em território Tupi: os Potiguaras - "comedores de camarão" - entre aquele rio e o Paraíba; os Tabajaras - "senhor da aldeia" - estendiam-se até Itamacará; os Caetés - "mata verdadeira" - predominavam entre aquele ponto e a margem norte do rio de S. Francisco (Alagoas). Nos sertões nordestinos refugiaram-se os Cariris - "silenciosos" - do tronco Macro-Jê após terem sido expulsos do litoral pelos Tupi. Os Tupinambás - "descendentes dos Tupi" - ocupavam a costa desde a margem do rio São Francisco até à zona norte de Ilhéus. Dentre eles havia dois grupos rivais, o que gerou um estado de guerra permanente e uma grande instabilidade, como veremos mais tarde a propósito da fundação da Vila Pereira, na zona da Bahia.
Nos sertões baianos fixaram-se os Tapuia, os Tupina e os Amoipira. Do estuário do Camamu (norte de Ilhéus) até ao Cricaré (Espírito Santo) viviam os Tupiniquins - "colaterais dos Tupi" - em permanente disputa com os Aimorés (Macro-Jê). Nos sertões de Espírito Santo e de Porto Seguro viviam os Ppanás e os Goitacás, também do tronco Macro-Jê.
A área costeira fluminense, até Angra dos Reis, era controlada pelos Tamoios - "avô"; o litoral paulista entre Caraguatatuba e Iguape - ilha Comprida - pertencia aos Tupinanquins que também ocupavam grande parte do sertão. Os Guaianás, Macro-Jê, dominava a zona planáltica na faixa que se estende de Angra dos Reis a Cananeia. A partir da Cananeia, como já vimos no "episódio" anterior, entrava-se na zona dos Guaranis: Carijós, Tapes, Patos, Arachãs e que tinham por inimigos populações dos grupos pampeanos: Charruas e Minuanos, na zona do rio Uruguai e da foz do rio da Prata.
Como se vê por esta longa descrição, o Brasil era habitado, embora com baixa intensidade e as zonas ricas do litoral eram dramaticamente disputadas. Os Tupi conquistaram o litoral, vencendo os povos de origem Macro-Jê, que se retiraram para o interior, e que passaram a ser apodados de Tapuias (ou seja, Selvagens). Foi essa ideia de povos atrasados e bárbaros que os Tupi passaram aos portugueses, relativamente aos povos Macro-Jê. Foi essa a visão quinhentista dos primeiros descobridores que associaram Tapuias a todos os ameríndios bárbaros, atrasados e ferozes, correspondendo genericamete aos povos "jês".
Como veremos à frente, estas diferentes "nações" índias, iriam ser usadas nas suas rivalidades e jogadas umas contra as outras no tabuleiro estratégico em se tornaria a posse do Brasil, na disputa entre Portugal e França, primeiro, e Portugal e Holanda, depois.
(A continuar)
2 comments:
Ora, Jorge,
normal que os nativos se rebelassem contra o invasor, colonizador, que os queriam como mão de obra explorando seu próprio patrimônio para a corte portuguesas.
Eles, racionais que eram, reagiam.
O que eu disse, Lina,é que as rivalidades entre os índios iriam ser exploradas pelos vários invasores. Outra coisa é rebelarem-se contra os invasores, que obviamente também aconteceu, embora no caso dos índios de forma menos "robusta" do que nas célebres revoltas dos escravos. Os índios, para o bem e para o mal, serviram de peões num jogo, cujas regras nunca poderiam entender.
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