15.5.10

JOANA DE TRANTÂMARA - A BELTRANEJA


Nascida a 1462 e casada com Afonso V, de Portugal, seu tio, foi rainha (consorte) de Portugal e do Algarve e rainha (reinante) de Castela e Leão, da Galiza, de Toledo, de Sevilha, de Córdova, de Múrcia, de Algeciras e de Gibraltar. O problema é que o seu pai, o polémico Enrique IV, de Castela, ganhou fama de impotente e os inimigos arranjaram um caso entre a mulher do rei e Beltrán de la Cueva. Joana seria ilegítima e para sempre guardaria o nome de Beltraneja.
As questões da sucessão de Castela conheciam um período de grande animação, com avanços e recuos de Enrique IV, tendo como figura central a Beltraneja. Esta era atirada como peão ao sabor do jogo e dos interesses. Era jurada rainha, para logo deixar de ser. Isabel a Católica, meia-irmã de Enrique, acaba por ser reconhecida como herdeira, mas ao casar contra vontade do rei com Fernando de Aragão, perde a confiança do monarca que se vira, de novo, para a Beltraneja. Esta casa, então, com Afonso V de Portugal, um cavaleiro à antiga que decide defender a honra da sua Dona e de caminho tomar Castela.
Afonso V entra por Espanha adentro e há então um momento crucial na história da Península: a decisão da sua união ou não. Uma facção apoia Isabel e Fernando, privilegiando a união de Castela/Aragão e o contrôle do Mediterrâneo; outra facção prefere a ligação Portugal/Castela e o controle do Atlântico. A batalha de TORO (1476) foi inconclusiva. Ambas as partes reclamaram vitória. Foi no plano diplomático e político que Afonso V perdeu.
Pelo TRATADO DE ALCÁÇOVAS (1479) termina a Guerra de Sucessão de Castela e são também fixados os limites de expansão atlântica para norte e sul das duas coroas. Mais tarde, em Tordesilhas, seriam fixados em termos longitudinais. Esta é a primeira "partilha do mundo".
Joana continua, porém, a intitular-se Reyna e foi prometida em casamento por mais 5 vezes, constituindo uma permanente ameaça à sucessão de Isabel e Fernando, chegando mesmo a estar prometida a Fernando, após a morte de Isabel. Uma confusão dinástica para evitar a sucessão de outra Joana, a Louca.
Louca é toda esta história e as monarquias com as suas mesquinhas questões de sucessão que põem em causa a soberania das nações. No fim a Beltraneja abdicaria das suas pretensões em favor do rei português D. João III (seu primo).  A Excelente Senhora, como lhe chamou D.João II de Portugal, o Príncipe Perfeito, inaugurou o tratamento de Excelência em Portugal, já que sendo indecoroso o título de infanta, seria politicamente incorrecto o de rainha nas relações com Espanha. A Beltraneja morria sossegadamente num convento, em 1530, já Carlos V tinha tomado conta da ocorrência.

7 comments:

João Menéres said...

Tudo muito bem explicado em poucas palavras.
Maravilhosa a forma como nos recorda umas coisas já meio esquecidas e nos ensina outras.
Ainda bem que a Excelente Senhora Joana deixou esta vida sossegadamente depois de tão atribulada e infeliz passagem terrena entre o Mediterrâneo e este que nos banha.

Lizete Vicari said...

Que coisa mais louca!
Pobre Joana, foi uma bola jogada de lá para cá!
Que tempos medonhos para as mulheres!
beijo!

angela said...

Não poderiam reclamar de falta de emoção...

myra said...

amo tuas liçoes, assim me faz recordar a epoca qdo eu sabia tantas coisas...agora ,e faz tempo, esquecidas!
otimo,e obrigada,

Maria Augusta said...

Foi prometida a tantos e acabou no convento...talvez tenha sido melhor para ela.

Jorge Pinheiro said...

A Excelente Senhora, onde quer que esteja, agradece o vosso interesse e eu também.

zeka said...

*** Maravilha de narrativa ***

Graça de nome: Trans(e)Tâmara.

Reinar da Galiza a Gibraltar não seria 'pera doce'... mas naqueles tempos não havia as 'distracções' de agora e, por isso, quanto mais se reinasse... melhor.

E reinou assim, sem crime nem pecado, casando com uns 'ino centes' 13 anos... porque a malvada da pedofilia ainda não tinha nascido e a Casa das Argolas era pia (sem ser Pia).
E porque Deus esta/va em todo lado (em Placencia). (^_*)