185 moscas. Tudo apanhado à mão. 22 em pleno voo. Recorde absoluto! Três da tarde. Quarenta graus à sombra. Fechado na frescura do feldspato. Cheiro ácido a porco vindo lá dos “fundos”. As primas já cá deviam estar para brincar aos médicos entre presuntos obscuros na cave brigantina.
Na casa ao lado, o meu tio-avô Abílio, mantinha uma mercearia com rentável estacionamento para burros em trânsito com pessoal de Gimonde, Carrezeda e Sacóias. Belo negócio... Para mim, apenas mais moscas!
Logo à frente, os bombeiros não paravam de apitar. Fogos devastavam as serras de Montesinho, Bornes e Nogueira. Para mim, apenas barulheira!
Às 17h tinha lição de acordeão, nas “freirinhas”. O método era 1-2-3-4-5-6-7-8-9-10. Cada número sua nota. Cada dedo seu número. Nunca cheguei a perceber quem era mi... muito menos onde ficava lá!
A rua era “De Trás” por contraposição à rua “Direita”. Exercício regional de duvidosa expressão democrática. Ambas acabam bifurcadas na Praça da Sé, na sombra tutelar da monumental torre de menagem.
Casa de três pisos e loja, paredes meias com a Câmara Municipal, a escassos cem metros do museu “Abade de Baçal”. Gravada no granito frontispício, a data abissal de 1783.
13 comments:
É interessante aquele café na esquina, atrás do pelourinho.
E as imagens, JORGE, também estão muito bem.
Esta aqui de baixo é muito curiosa.
Foi bem vista!
A propósito do texto:
Ainda não entendi bem...
Quem era OBSCURO?
- os presuntos ou a cave?
A ASAI não permite esse ambiente em consultórios...
Mas, naqueles tempos, ninguém pensava nessas intromissões!
RsRsRs...
Jorge,
muito boa cobertura fotográfica, e texto dessa reportagem!
Nem se precisa ir lá. Já conheço tudo! E sem moscas!
Obrigado Eduardo. Mas vale a pena ir. Falta mostrar tamto. E os arreddores são espectaculares.
João: obigado mais uma vez. Tudo era obscuro, então depois destes anos todos...
Lembrei de minhas aulas de piano, dois anos e não sabia onde ficava o dó. Queria aprender acordeão..rs
As moscas o deixaram um rapaz rápido.
Lindas a fotos, a cor dos telhados e o texto muito bom.
lindas fotos e texto muito realista e expressivo :), extremamente interessante, principalmente, para quem (como eu) não conhece a tua "terra-mãe"!
Não sabia que tinhas tido lições de acordeão, a mim calhou-me o piano que foi igualmente "secante" e assustador, pois a prof batia e tudo ):
beijinhos (vamos lá ver se é desta)
Daga: entrou. Não chegou a ser secante e como verás à frente, aqui nasceu uma família de músicos. O interessante é que encontrei a professora.
Ah, Trás-os-Montes. Mesmo com moscas! Guardo grandes memórias dessa terra - onde a minha mãe nasceu (algures entre Valpaços e Carrazeda, acho eu) e onde, durante a minha infância, passava metade das férias de verão (a outra metade era passada no Minho, em Melgaço, terra do meu pai).
Que bom, obrigada por esta boleia ao passado :)
Beijos
Bela
Bela: ainda bem que acertei na "mouche".
Da cidade natal a gente nunca esquece e essa é linda Jorge.As ruas parecem estreitas e casas com sobrados apenas, bem unidas umas as outras quase uma promiscuidade rsrs
muito bonitas as fotos e quanto as 185 moscas certamente tem uma criadeira nos "fundos" pra mim sempre irritantes! mas são só moscas rs
ótimos registros.
deixo abraços
Lis: aqui é que era o comentário das casas. Vai ver mais para a frente. Ruas muito estreitas e medievais. Aqui não chegou o famoso terramoto de 1755 que arrasou Lisboa e a parte sul do pais. As casas (algumas) e a malha urbana manteve-se.
Jorge: correspondeu integralmente às minhas expectativas.
O meu Trás-os-Montes situa-se mais a leste do Distrito (Lagoaça, Freixo de Espada-à-Cinta, bem no meio das arribas do Douro, por ali sempre superior) e pouco contacto tive com Bragança, mas o "cheiro", o "sabor", a "experiência" e, sobretudo, a "memória" são perfeitamente similares.
Obrigado e um abraço.
Fernando: tb conheço bem. É linda essa zona. Ainda acabamos a fazer um blogue transmontano... Ah, mas a Linha...
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