7.10.10

POLÍTICA MUNDIAL - RELIGIÕES - UM FALSO PROBLEMA

As religiões são crença e fé. Medo da morte. Esperança num devir providencial. São existências incertas. Metas sem certezas. Morte eterna. Jubileu perpétuo. Mas as religiões são também códigos de conduta e de comportamentos. Regulamentam a vida. Socializam o ser humano. As religiões comportam em si um germe político específico. A religião cristã introduz a questão da igualdade; o fim da escravatura; a existência de algo mais do que a relação de poder entre seres humanos. Acaba numa Opus Dei que emite notas no crédito a favor do "Além". Os muçulmanos relevam a caridade e a hospitalidade; a necessidade de socorrer o próximo; a ajuda permanente às mulheres e viúvas; regras básicas de higiene; a "jihad" como forma extrema de fé, a explosão como acesso às 72 virgens. Os budistas integram um movimento perpétuo de renascimento; uma corrente de seres que se sucedem numa espiral de iluminação; uma melhoria que pode ir parar num qualquer off-shore, dependendo do Rajá.... Afinal qual é o problema das religiões? Porque se transformam em política e vice-versa? Porque não consegue o Estado ser laico e a Religião ser apolítica? A razão é simples: porque são ambas a mesma face da moeda. A política e a religião têm dogmas, regras, códigos; o  bem e o mal, maniqueímo permanente; justiça, leis, filosofias... Identificam-se completamente. Precisam uma da outra. Sempre o fizeram ao longo de séculos. A política é a religião sem fé. Ambas se separam ao sabor de conjunturas, para logo se juntarem, por necessidade mútua. Nunca podemos verdadeiramente destrinçar. Porque morrer é deixar de ser visto e deixar de ser visto é anti-democrático. E ser anti-democrático é um mau funeral. A religião é um falso problema. A religião é fé. A democracia é convicção. Quando a política é apenas crença, mais vale irem à missa.

7 comments:

João Menéres said...

Análise muito frontal.
99% de ACORDO !

Anonymous said...

98% para não concordar INTEIRAMENTE com o João, caro Jorge!!!! srsrs

daga said...

a religião é um falso problema realmente, porque só é um problema se se transformar em fanatismo (Cruzadas,Opus Dei,"jihad"etc. Mas não estou de acordo que a religião e a política "se identifiquem completamente" - a religião "é fé", como dizes, mas nem sempre é "medo da morte", pode ser uma procura para o sentido da vida, não se baseia em argumentos racionais. Já a política precisa de argumentos (mesmo que sejam falaciosos) para se promover. A religião é espiritual e a política é material.
As últimas seis frases são lindas, tenho de me rir, muito bom!
beijinhos

Jorge Pinheiro said...

Compreendo o que dizes. Discordo qt ao facto de a religião tb precisar de argumentos falaciosos para se promover. Sim, a religião promove-se e de que maneira. No seu purismo, não. Mas isso... Mais. a religião precisa do Estado e o Esdo da religião, poe«rque na verdade(?) elas são a mesma coisa. Aliás, tenho para mim que JC foi um grande político e Constantino percebeu 300 anos mais tarde. Não devia ser assim, mas é. Por isso é falso problema.

Anonymous said...

O nosso amigo Expresso habituou-nos a estes óptimos textos escritos jazzisticamente ao correr da pena.
Não pude, no entanto, deixar de detectar alguma confusão entre os conceitos de ideologia e de política, assim como de moral e de religião. Na política não existem o bem e o mal absolutos, é um jogo, uma escolha de opções. Para um governante medíocre o objectivo é manter-se no poder, para um estadista é melhorar a vida dos seus cidadãos.
Nesse supremo jogar é que podem manipular-se as convicções ideológicas e as fés religiosas, para atingir os fins.
No meio disso tudo, acredito que possa existir uma moral sem Deus.
ORTEGA

Jorge Pinheiro said...

Todos nós.

Jorge Pinheiro said...

Contributo muito positivo e enriquece esta interminável confusão entre religião e estado e o aproveitamento de uma pela outra, vice-versa e paralelamente.