18.4.11

EUROPA


Há uma senhora Merkl perturbada por eleições. Eleições que vão inevitavelmente dar uma minoria governativa aos “Verdes”. Um efeito colateral do tsunami nuclear japonês. Os alemães podem dar-se ao luxo de decidir em função da catástrofe do momento. Na Finlândia cai o governo. Talvez pelo frio, ou seria pelo pássaro das neves? Ninguém quer saber. E, no entanto, as intercalares finlandesas, um país exótico, cuja única virtude foi ter resistido ao comunismo soviético, acabam por entrar no impasse decisivo. A Europa há muito deixou de viver de decisões. Hoje a Europa é um impasse permanente. Uma comitologia de abstenções. A Europa fica na indecisão de nada saber. Na certeza de nada querer. Na vontade de nada ser. Duzentos funcionários altamente superiores, superiormente pagos, largamente impostores, reunidos numa “távola redonda”, rodeiam um sortido rico de petits-fours. O chá é de Ceilão. O café é do Brasil. Os sorrisos são de circunstância. As palavras não fazem sentido. Abstêm-se de tomar posição e decidem nada decidir, na esperança de ter tomado a melhor decisão. Governos ineptos almoçam moules com batatas fritas nos restaurantes da Grand Place, em representação dos cidadãos europeus. Chegam a consensos alcoólatras nos Visas dourados pagos pelo povo encardido e empobrecido. A Espanha disfarça na altivez. A Bélgica tenta passar despercebida. A Irlanda volta a comer batatas. A Grécia mantém a tragédia. A Itália vive de expedientes. A Hungria não vai chegar a acordar. A França chuta para canto. Os Ingleses brancos emigram para Washington. A Suécia é um exemplo que não interessa a ninguém. A Noruega não pertence à União. A Holanda joga bom futebol. A Áustria… existe? O Euro está falido. As políticas sociais estão moribundas. Não há política comum. Não há estratégia. Não há nada… É aqui que nos encontramos. Um deserto de areias movediças. Um pantanal de jacarés. No meio de tudo isto, Portugal é hoje o país mais interessante da União Europeia. Um país que pode fugir para todos os lados. Sair da União. Aproveitar-se da União. Voltar a África. Refugiar-se no Brasil. Dedicar-se ao golf. Emigrar para off-shore. Exagerar no turismo. Tornar-se num “paraíso fiscal”. Um casino ambulante. Sei lá... Tantas soluções. Tantas hipóteses. Estou farto de mentes mesquinhas. De gajos certinhos. Partidos formais. Presidentes idiotas. Gente que diz o que se espera. Gente que espera para dizer o mesmo. Dia sobre dia. O mesmo todos os dias. Saloios de gravatinha que comem na gamela europeia. Funcionários do poder… As gaivotas voam. Planam. Mergulham. Sobrevivem. Atingem o Sol. E nós?

7 comments:

João Menéres said...

E nós ?
Temos que nos aguentar no Euro, tesos como estamos, não há alternativa.
Quando a NOSSA MOEDA era forte, escudada por boas reservas de ouro, era uma coisa. Agora, sem meia dúzia de cêntimos para mandar tocar um ceguinho, se caíssemos nessa tentação de nos escapulirmos pela porta dos fundos, a nossa dívida seria multiplicada um sem número de vezes pela automática desvalorização e as exportações iam ficar pelo preço do ouro.
E como o que exportamos é tão diminuto...

É o estado a que chegamos por culpa própria.

daga said...

Palmas para o texto e palmas para o Fernão Capelo Gaivota que há em ti =D
beijo e abraço meu amigo

astracan said...

Belo texto, Jorge.
Abraço

zamot said...

Viva!!!

Jorge Pinheiro said...

Obrigado Astra e Zamo.

Silvares said...

Nós, cá vamos andando, com a cabeça entre as orelhas que amanhã será o primeiro dia do resto das nossas vidas.
:-)

Jorge Pinheiro said...

Silavares: e ainda temos sorte :)