17.6.11

A VOZ DO OPERÁRIO - I

A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário nasce num contexto histórico de um movimento operário em ascensão, num tempo marcado pela luta contra a monarquia, em que republicanos e socialistas obtêm o apoio significativo das classes laboriosas e cujos ideais não só encontram eco junto destas como as mobilizam para a transformação e a mudança.
Em Portugal, a indústria tabaqueira é, no terceiro quartel do século XIX, aquela que gera o maior volume de negócios. Em pouco mais de uma década, o crescimento industrial acelerado dá origem a quase uma vintena de fábricas que empregam perto de cinco mil operários, na sua grande maioria tarefeiros e jornaleiros. Ao aumento da produção não está porém associado o aumento do consumo e, em 1879, uma dura crise atinge a indústria tabaqueira, originando um forte desemprego. Sucedem-se as greves e manifestações, das quais os jornais da época vão dando conta, sempre na perspectiva do patronato.
Será, aliás, a recusa de um título de então em publicar uma notícia sobre as condições de vida dos operários tabaqueiros que estará na origem da criação do jornal A Voz do Operário. Custódio Gomes, operário tabaqueiro, indignado com a recusa de publicação da referida notícia terá, segundo a tradição, afirmado que “soubesse eu escrever que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos um jornal. Bem ou mal, o que lá se disser é o que é verdade. Amanhã reúne a nossa Associação, e hei-de propor que se publique um periódico, que nos defenda a todos, e mesmo aos companheiros de outras classes”.
A proposta foi feita e aceite. Com sede no Beco do Froes (hoje rua Norberto de Araújo), ao Menino de Deus, em Lisboa, nasceu, a 11 de Outubro de 1879, o jornal A Voz do Operário pela mão de um outro operário tabaqueiro, Custódio Braz Pacheco.
A exigência financeira que implicava a manutenção do jornal leva a que os operários tabaqueiros procurem formas de sobrevivência para o projecto. É assim que, a 13 de Fevereiro de 1883, nasce a Sociedade Cooperativa A Voz do Operário em cujos estatutos se escrevia ser objecto da Sociedade “sustentar a publicação do periódico A Voz do Operário, órgão dos manipuladores de tabaco, desligado de qualquer partido ou grupo político”; “estudar o modo de resolver o grandioso problema do trabalho, procurando por todos os meios legais melhorar as condições deste, debaixo dos pontos de vista económico, moral e higiénico”; “estabelecer escolas, gabinete de leitura, caixa económica e tudo quanto, em harmonia com a índole das sociedades desta natureza, e com as circunstâncias do cofre, possa concorrer para a instrução e bem estar da classe trabalhadora em geral e dos sócios em particular”. Para tanto, os 316 sócios da altura comprometiam-se a pagar uma quota semanal de vinte réis, quantia que retiravam dos seus humildes salários.
Em Outubro de 1912, com a presença do próprio Presidente da República, Manuel de Arriaga, é lançada a primeira pedra de construção da sede actual de A Voz do Operário (sita na Rua Voz do Operário, à Graça, em Lisboa), tendo as obras ficado concluídas em 1932. O projecto é da autoria de Norte Júnior. A presença maçónica é evidente. Ontem fomos lá dançar... 

4 comments:

Anonymous said...

Na crise, só bailando! E quem não baila "dança"!!!!

myra said...

OTIMO!!! e para mim instructivo!

Helena Oneto said...

Muito interssante relembrar as origens d'A Voz do Operário!

Jorge Pinheiro said...

Nem eu sabia. Aprende-se muito nos blogues.