15.11.11

SER POLÍTICO - O MURO DAS LAMENTAÇÕES


Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA anteciparam-se e impediram que fossem exigidas à Alemanha reparações de guerra tão avultadas como o tinham sido em Versalhes (que, diga-se de passagem, também ficaram por pagar). Mesmo assim, as indemnizações acenderiam a muitos biliões de euros. Quase tudo ficou adiado até ao dia de uma eventual reunificação alemã. Isso significou que os trabalhadores escravizados pelo nazismo não foram compensados, as famílias dos judeus mortos e a maioria dos países europeus se viu obrigada a renunciar às indemnizações que lhe correspondiam devido à ocupação alemã. No caso da Grécia, a dívida alemã que ficou por pagar é superior aos 220 mil milhôes de euros correspondentes às duas tranches de ajuda àquele país. Em 1990, na sequência da queda do Muro, a Alemanha passou um calote aos seus credores, quando o chanceler Helmut Kohl decidiu ignorar o tal acordo que remetia para o dia da reunificação alemã os pagamentos devidos pela guerra. É que isso era fácil de prometer enquanto a reunificação parecia música distante, mas difícil de cumprir quando chegasse o dia. Com a queda do Muro, Alemanha expandiu o mercado a leste e aproveitou o mercado da União Europeia. Reequipou-se com o dinheiro das indemnizações de guerra não pagas e das ajudas comunitárias à Alemanha de Leste. A Alemanha é assim mesmo. Um estado imperial que destroi civilizações para renascer mais forte. Mas de que valem as lamentações? Os ódios serôdios? As vinganças adiadas? Num mundo bipolar e dominador, as queixas só servem para aumentar o desprezo dos poderosos. Não lhes dêem essa satisfação. Temos de ser inventivos e arranjar alternativas. Caso contrário estamos apenas a desistir.

6 comments:

Maria de Fátima said...

é por estas e outras que eu não vejo nos olhos de todos janelas de alma e nem sei se procuro isso ou simplesmente perceber de que lado, no momento mesmo em que desço o passeio, passo na fila de cinema com licença ou escolho mesa para jantar: os olhos podem ser de tantos quilates que prefiro os meus e os que aceito em cada perído, e nem disso estou certa que demónios todos temos e enormes
isso e as sopinhas que vou fazendo para que o corpo reisita...

Li Ferreira Nhan said...

Jorge,
lá traz no colégio das freiras (de maioria alemã) falava-se a boca muito pequena acerca da tal dívida não paga, com o aval dos americanos. Lembro-me bem pois no meu ingenuo senso de justiça tipicamente adolescente achava um absurdo, afinal desde criança em minha casa (portuguesa com certeza!) diziam que as dividas tinham que ser pagas sempre!
Mas, em se tratando dos alemães, não se podia haver crítica, muito menos opiniões; era proibido sob pena de expulsão da escola.
O muro caiu,
eu recordei do calote e mais uma vez pouco ou quase nada se falou; era conveniente festejar a derrocada comunista.
Outro dia falei disso aqui em casa, da fortuna que os alemães deviam aos gregos, e ninguém nunca havia ouvido nada acerca dessa história.
...
A história é conduzida e escrita conforme a conveniencia e os interesses em vigor.
Já a boataria, nomeadamente dirigida aos menos poderosos, essa sim, corre solta.

Jorge Pinheiro said...

Mª de Fátima: às vezes dá vontade de não pensar nisto...

Jorge Pinheiro said...

Li: a história está sempre a ser reescrita e mal contada. Por isso, mais vale não refilar. Mas que enerva, sem dúvida. O seu comentário foi mais que oportuno. Foi esclarecedor.

Paulo said...

A história é sempre contada pelos vencedores.

Jorge Pinheiro said...

E a memória é selectiva.