26.4.12

ANÓNIMO - EM ANGOLA OS CRAVOS NÃO FORAM VERMELHOS

No dia 25 de abril de 74, em Luanda, não havia guerra civil. Havia a guerrilha na mata, como já acontecia há mais de uma década, mas Luanda vivia em paz. Guerra civil, recolher obrigatório e tudo o mais que a uma guerra civil é inerente, veio depois. Nesse dia glorioso rejubilei. Não só pelos angolanos como também pelos portugueses. Estariam livres de uma ditadura severa e de uma guerra que não era deles. Por nós, angolanos, tudo estava por vir ... Passou o tempo e no cano das armas não houve cravos vermelhos. Houve fogo. Todo esse processo trouxe-nos mais guerra, mais fome, mais dúvidas, mais incertezas quanto ao futuro. Também mais sonhos e mais esperança. Para mim, particularmente, trouxe-me o peso de um exílio que carrego há mais de 30. Ainda assim, tenho o dia 11 de novembro de 75, em Luanda, como um dos dias mais felizes de minha vida. Jamais culparei Portugal por tudo o que de mau aconteceu, muito menos seu povo. Ardam nos infernos, esses sim, os seus indignos e tiranos governantes. 25 de abril, sempre. Minha gratidão eterna aos Capitães de Abril. Quanto a Angola, ainda está sendo escrita o resto dessa História. Mas valeu. E muito!

Angola é a história por contar. Um país que Portugal deixou adiado e que ficou nas entremalhas da Guerra Fria. Um país que emerge e que só espera por democracia a sério. Quem lá esteve jamais esquecerá. Este é um relato de quem perdeu a Pátria, mas que aceita por uma causa maior.

8 comments:

Li Ferreira Nhan said...

Anônimo,
de fato "Quanto a Angola, ainda está sendo escrita o resto dessa História".
Obrigada pelo depoimento.

Mena G said...

Que me dói na alma a história que não vi. Relato sentido, este.

Anonymous said...

Agradeço. Quando somos jovens queremos ser nós a escrever a História. Depois .... bem, depois só nos resta ler o que os outros escreveram e, por vezes, há choques de versões. Quem conta um conto ... Mas a nossa história particular, historiador algum conseguirá apagar, distorcer, ou inventar. Ela perdurará até onde a nossa memória o permitir, sem mossas. Há também os olhares e os sentires de cada um....

myra said...

tudo que Jorge escreveu sobre a Liberdade e agora isto sobre Angola, è historia para quem nao a conhecem. E o agradeço, mas Angola...ainda nao acabou...acho..obrigada Jorge

Fatyly said...

"Mas a nossa história particular, historiador algum conseguirá apagar, distorcer, ou inventar. Ela perdurará até onde a nossa memória o permitir, sem mossas. Há também os olhares e os sentires de cada um...."
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Tal e qual e agradeço imenso a troca de comentários que tivemos, tentei não beliscar nem ferir e ou alterar o teu relato, mas acredita...que ontem os meus olhos pareciam o rio Bengo ou o Kwuanza:)e fiquei que nem a Lagoa do Panguila, sentada na ponte tocando com os pés aquelas águas...e que mais?

Olha só aquele abraço sincero como só os angolanos sabem dar:):):)

Anonymous said...

Olá Faty, também gostei e agradeço-lhe a paciência. Ao contrário dos seus, os meus olhos estão secos como o deserto do Namibe, pois não trazem eles mágoas, revoltas ou decepções. Saudades talvez, mas essas, de tão boas, só me podem fazer sorrir. Quanto ao abraço, deixo-lhe também um. Ah.... a sinceridade não tem nacionalidade ... até rimou :):):):)

Silvares said...

Metade da minha família aterrou em Portugal, vinda de Angola. Os tios regressavam, os primos viam esta terra pela 1ª vez. Ainda hoje são angolanos. Todos os que ainda vivem.

Jorge Pinheiro said...

Ainda bem que se proporcionou um diálogo destes. Apetecia fazer mais Comentários que Valem um Post... Interminável.