19.7.12

E SE A VIDA FOSSE NO FACEBOOK?

Imaginem-se num café. A rotina diária à volta de uma mesa. Os amigos de sempre. Conversas estafadas. Os tiques que já se conhecem. As opiniões habituais. O Manel que cheira a suor. O Joaquim com mau hálito da boca. O Zé sempre a querer fumar. A Maria cheia de convicções. A Rita carregada de opiniões. As anedotas do costume. Piadolas banais. Gargalhadas de circunstância. Os filhos, os netos, os cães e os gatos... Imaginem-se num café apanhados na armadilha da tertúlia matinal ou do chá das cinco. Imaginem que não podem desligar. Que não podem ficar off-line. Que têm de continuar no chat até que o almoço os chame ou que o jantar faça horas. E a mulher do lado cada vez berra mais alto. O Zé está doido para fumar. O Joaquim insurge-se contra o governo. A televisão grita as últimas da crise. Na mesa ao lado discute-se futebol. A máquina lá atrás jorra cafés com ruído maquiavélico. A loiça escorrega das mãos atarefadas de empregados suados à beira do paroxismo, rebentando no chão de mosaicos como berlindes estilhaçados ... O sossego do Facebook. As novidades anunciadas no silêncio da partilha. Os comentários que não são obrigatórios. A conversa que se pode interromper. E podemos estar vestidos ou nus, desgrenhados ou de roupão... Uma vida global num clique solitário.

9 comments:

João Menéres said...

Sentir-me-ia um incapaz !

Paulo said...

Acho importante para a nossa saúde mental continuarmos a partilhar a existência com Joaquins, cães, gatos , netos, empregados suados, etc. A vida, fechado na toca em roupão e chinelos à frente dos ecrãs parece-me miserável. Prefiro arriscar-me a morrer no passeio.

Jorge Pinheiro said...

Mas está difícil o equilíbrio entre as duas coisas. Tal como a televisão, o contacto/convívio directo perde muito com os novos meios comunicacionais.

Fatyly said...

Mas alguma vez eu troco o olho-no-olho, mão-na-mão, mão na coisa(isto pode significar muita coisa, nada de maldades), duas pessoas já dão uma rebelião(que no Código Civil ou Penal de 1949 era multa desgraçada) um café, prosuê com cheiros ou sem cheiros, gritaria, risada audivel, essa de cães e gatos...hummm, mas ok podem levar...por esse tal de FACEBOOK? Segundo leio esse gajo não merece a minha confiança, detesto ursinhos e corações e prendinhas de merda, flores sem cheiro, hortas cujos tomates, pepinos, couves, cebolas e até o Jaquim e a Maria são inexistentes? Depois os velhos(as) são novos ou vice-versa etc e tal?
Obrigado...mas prefiro este teu espaço...e cóoooooooo licença vou continuar a ler outros:)

Um beijinho rapaz extensível à tua família...mas não a desse de tal Facecaraças:)

(Desculpa:))

mauro m. said...

O Livro das Faces tem várias faces, importante encontrar a que nos interessa.

Jorge Pinheiro said...

E A VIDA CONTINUA "IN AND OUT".

daga said...

como já disse no "próprio" (fui lá primeiro, o que só por si é imperdoável;)- visto desta forma parece o "paraíso", porque só ilustras as partes negativas dos contactos sociais!embora esta comunicação "sem toque" tenha as suas vantagens por podermos expor melhor as nossas ideias(e eu prefiro o blog), a última palavra do teu texto é a essencial - "solitário"...

Li Ferreira Nhan said...

Concordo inteiramente com o Paulo.
Não há internet alguma que substitua o meu convívio no café, na padaria, na rua. A vida confinada em 4 paredes na fissura desta tela é miserável demais.
E o Mauro disse bem acerca do facebook; é uma questão de escolhas. Ainda bem!

Jorge Pinheiro said...

Eu não escolhi nada. Só mando bocas!