9.8.12

UM LIVRO DO BLOGUE?

A verdade é que morremos. Mais tarde ou mais cedo, quando menos se espera, zás! E depois choram todos muito durante umas semanas, lembram-se espaçadamente nos dias de missas comemorativas, até que todos morrem e ninguém fica cá para rezar mais missas. Mas para que queremos nós ser lembrados se, no fundo, já cá não estamos para agradecer a lembrança? Dizem que é uma hipérbole da nossa memória, o desespero da persistência do ego. Acreditar que fica um rasto. Que deixamos pegada. Que fomos qualquer coisa. Para quem tem obra feita, pintura, escultura, literatura, fica um livro na prateleira, um quadro espetado na parede, um boneco sujo de pó, coisas que um dia um tetraneto qualquer encontra no sótão e fala embevecido aos amigos no incógnito e remoto avô que talvez fosse artista. Cinco minutos depois a conversa segue e nunca mais somos falados ou repensados. Mas hoje temos a “virtualidade” ao nosso dispôr. Uma memória electrónica que fica nas “clouds” para todo o sempre. Uma password e tudo será recordado. Os e-mails patetas que enviámos a namoradas em crise. As conversas de chacha que enfiámos no Facebook. Os blogues que tão esmeradamende conduzimos. Só que até essa imortalidade virtual morre. Morre por inacção. Fica parada, sem mais comunicação, sem actualização. Acessível, mas sem novos conteúdos. Interessa a quem? Só se fôr ao Menino Jesus. Neste fervor de eternidade, há quem publique livros sobre os blogues que faz. Uma tentação óbvia. Um livro é um livro. Fica na prateleira. Relembra o passado. Tem valor literário. Eu, porém, estou com uma dúvida. Hei-de editar um livro sobre o Expresso da Linha, ou agendar posts até 3050? Quero congelar o passado ou viver para além do tempo?

21 comments:

Anonymous said...

Jorge,

vamos continuar a nossa conversa por aqui. Este seu post, e essa sua pergunta dão continuidade às nossas trocas de ideias anteriores. Este texto poderia servir de prefácio do meu livro sobre blogs! Mas vou além, ele levanta dúvidas que para mim perduram, apesar do meu livro estar quase no prelo. Digo quase porque toda manhã, acordo com novas dúvidas e incertezas. Tanto assim que estou no computador escrevendo umas coisas, que podem virar outro livro, ou uma nova parte do O Último Blog, e outras blogagens, ou ainda, virar nada.O certo é que estou cheio de prazer em remoer esse assunto. E quanto mais escrevo, mais coisas me apetecem escrever. A possibilidade de deixar para os bisnetos umas telinhas e esculturas empoeiradas não me convencem. Ocupam espaço, e estarão completamente fora de moda. A arte do seculo 19 e 20 será incompreensível para os garotos do século 21 e 22. Mas os livros impressos, que ocupam menos espaço, e serão objetos tão estranhos como as pinturas, mas podem conter senhas e pistas para seu entendimento. Como cartas de um suicida, podem revelar muito de seu autor. De suas intensões, de suas pretensões! E tem razão quando diz que na verdade buscamos a imortalidade. A propósito saia correndo para comprar e ler o último livro do festejado escritor ingles JULIAN BARNES, O SENTIDO DO FIM, que trata exatamente disso que estamos falando. Da vida e da morte! Só que como bom escritor, escreve "em ritmo de rock". A leitura desse livro esta me fazendo repensar todo "O Último Blog". E para finalizar, repito o que já disse anteriormente em outras conversas: escreva um livro impresso: Expresso da Linha. Continue escrevendo no blog. Enquanto houver dúvidas, a procura da certeza é a razão da vida. Quando não houver mais nenhuma questão a ser resolvida, é hora de morrer! Estamos, graças a deus, cheio de dúvidas.

myra said...

.." enquanto houver duvidas, a procura da certeza é a razao da vida..."
sim, Eduardo, e Jorge, se paramos, morremos!!!

Anonymous said...

Myra,

essa frase é minha! Gostei tanto de te-la escrito, que ao ler resolvi colocar um "negrito" achando que deve já ter sido escrita por alguém, e minha memória apagou o autor e se apropriou dela!srsrs
Mas é a PURA verdade.
bjs

Jorge Pinheiro said...

A frase é espectacular e a pura verdade. Sugiro que a use até à exaustão, para continuarmos cheios de dúvidas. E penso tb que tem razão em várias coisas:
- remexer nas coisas dá imenso prazer;
- Só isso justificaria escrever esse livro;
- e um livro é um livro;
Acrescento mais uma razão: não é prático consultar um blog desde o início e nem sequer tem interesse. Veja o meu caso. Tenho textos que vivem por si próprios. Outros que têm continuações muito extensas. Outros ainda que são muito inspirados em mera informação Wikipediana. Finalmente muitas fotos e comentários a essas fotos. Tenho quase 5000 posts nestes 5 anos de blog. Há que seleccionar e até melhorar. Reescrever. Por isso, a sua ideia de fazer um livro me entusismou. Até já comecei...
Este post aqui era algo provocatório para mim mesmo e as dúvidas são a mola da vida.

Mena G said...

Eu já estou à espera. :)

daga said...

Claro que deves escrever um livro sobre este blog, porque escrever um livro não é "congelar o passado", é comunicar com o futuro! A tua mensagem não será só para netos etc, a tua mensagem pode ter uma intenção pessoal,mas no futuro será recebida e interpretada noutro contexto, por pessoas de épocas diferentes, mas isso não interessa, o que interessa é que estará lá para revelar ideias, pontos de vista importantes para gerações vindouras! Nós lemos os escritores, poetas, filósofos, podemos não concordar, mas a sua leitura enriquce-nos! vai em frente com o projecto :))
(não saberíamos nada de Sócrates se Platão não tivesse escrito as ideias dele)

Teresa Diniz said...

Podes editar o livro e continuar a escrever no blogue até 2050...

João Menéres said...

Se eu disusesse de tempo, ( o que infelizmente - para este caso - não se verifica ), tinha muito para comentar. Tanto o seu texto, como os do EDUARDO.
Assim, e como não sou escritor, mas sim, AGORA, uma pessoa que quando pode fotografa, vou contar o que está a suceder comigo presentemente :
Tenho um livro para publicar, como já tenho comunicado nalguns comentários de vários bloguistas.
Pois bem, o editor estipulou queseriam 80 imagens.
Na 3ª feira ( anteontem ! ) tinha SELECCIONADAS 127.
Com muito custo, retirei 27. Fiquei com 100, para mim a não excluir ! Mas, ainda me faltavam uns doze itens que serão imprescendíveis num livro do Porto que pretende ser diferente ( pelo menos em estrutura e em imagens dos dois anteriores albuns de que fui o editor. Ou seja, tenho 115 imagens e não consigo retirar mais nenhuma...
Que fazer ?
Esperar que o editor se convença que o livro tem que ter quase mais 50% das 80 previstas, é uma hipótese super remota.
Deixar que seja ele a fazer a triagem das 80 ?
Embora confie TOTALMENTE no seu critério, o certo é que ficarão 35 ou 40 de fora.
É como nos levarem um filho para parte incerta !...

JORGE : Força com o LIVRO, porque eu até 3050 não devo viver ( pelo menos, com a suficiente lucidez ...).

EDUARDO : Eu continuo a admirar Pintores de
1.500, como o Bosch, e muitos outros, anteriores aos dois últimos séculos !


A TODOS DESEJO QUE PASSEM E FIQUEM BEM NESTE PERÍODO EM QUE ESTAREI AUSENTE.
Boas férias para quem as gozar nesta altura.
Beijos / Abraços.

Jorge Pinheiro said...

João: eu quando não sei o que fazer, entrego-me nas mãos de quem confio. Será o caso do editor? Boas férias também e aproveite este calor estonteante.

João Menéres said...

JORGE

Provavelmente não terei outra alternativa ( e além das citadas imagens, em Setembro ainda tenho que fazer mais TRÊS !...).

Se o limite fôr mesmo as OITENTA, já tenho, para outro hipotético livro, quase metade das fotografias feitas...

Obrigado pela sua opinião. Confortou-me um tanto !

Um abraço. ( Dia 6, já estou a 17 Km da Mena e da Fátima.
E espero também da Fernanda e do Expresso !...)

João Menéres said...

A Monografia vai comigo !

Jorge Pinheiro said...

Penso que não conseguirei ir. Mas... veremos.

João Menéres said...

À cautela, eu levo. Fica lá, se calhar até 2013...

Li Ferreira Nhan said...

Jorge e Edu estou a espera dos livros!
E o do João também!
Quanto ao outro assunto,
o da primeira frase,
não tenho hábito de ocupar a minha cabeça com ele.

peri s.c. said...

Parem de sofrer e ... escrevam ( livros e posts )rapazes, mesmo que seja para ficar estagnado sabe-se lá em que "nuvem" ou empoeirado numa prateleira . Um dia arqueólogos digitais irão lá tentar entender o que se passava nesses nossos tempos .

Anonymous said...

Jorge,

e para continuar no mesmo assunto, gostei tanto da sua frase: ...."escrever como Rock, samba canção... " eu estou imprimindo ritmo de jazz no meu! E estou gostando do resultado!"

Jorge Pinheiro said...

Escrever em ritmos é para mim fundamental. O jazz tem o swing e a improvisação e permite compassos mais irregulares. O rock é mais quadrado e contido. O samba solta-se em múltiplas direcções. Podemos perder-nos.

Jorge Pinheiro said...

Qd escrevo estou sempre a bater com os pés. Tempo e contratempo.

daga said...

dá para sentir ...

myra said...

todos estes comentarios ja darima para um livro, ou quem sabe um prefacio,,,estou esperando os livros, escrevam, por favor!!!

Jorge Pinheiro said...

Certo Myra. Vamos a isto.