9.12.13

OPERAÇÃO CAÇÃO - XXII


Idalécia ficou a matutar naquilo, “Vais a ver que ainda é o teu alemão”. Quando se encontrou com Melzek naquela noite, ia apreensiva. Claro que aquilo era uma parvoíce, mas não conseguia deixar de pensar na conversa com o irmão. E se fosse ele? Melzek era um homem solitário. Ela sabia isso. Via-o todos os dias sozinho. Sempre enfiado em casa. Sempre na varanda a fumar os seus cigarros. E se fosse ele? E depois começou a lembrar-se. Ele pouco falava de si próprio. Fugia sempre às perguntas. Só falava do presente ou do futuro. Nada do passado. Nunca quis tirar uma fotografia com ela. Nem sequer deixava tirar-lhe uma foto só para recordação. Cada vez que ela tentava, fugia. Dizia que não era fotogénico. Ela já desistira, para evitar conflitos. Era um homem delicado, aparentemente calmo. Mas, ao fim de quase dez dias que andava com ele, era evidente que havia ali muita tensão acumulada. Depois, havia mais coisas estranhas. Não tinha telemóvel. E, no entanto, nos dias que antecederam a explosão, ela lembrava-se bem que ele falava ao telemóvel lá no alto da varanda em frente ao supermercado. Mais estranho, ainda. Não queria falar do atentado. Sempre que ela falava do atentado ele encolhia os ombros. Não comentava. Parecia querer fugir ao assunto. Ela sempre achara que era por alguma insensibilidade que lhe seria inata. Mas agora já não sabia. Idalécia estava confusa. Aquela frase da cunhada ecoava-lhe na cabeça.
(Continua)

6 comments:

Anonymous said...

ÓTIMA ILUSTRAÇÃO. O texto já conheço!!!

João Menéres said...

A confusão faz parte da vida.
E o suspense de um policiário.

daga said...

a Idalécia está apaixonada mas não cega nem estupidificada !
lá em cima na foto, és tu disfarçado ou vais-me bater...?

João Menéres said...

GRAÇA

Acho que não !
"Isto" até parece um alemão a olhar para Portugal espantado com o descalabro que reina por cá.

Um beijo.

Fatyly said...

Dei uma sonora gargalhada quando me deparei com esta foto. O texto...tenho estado a imprimir para ler tudo de seguida:)

Jorge Pinheiro said...

Fatyly: posso mandar o livro todo. Basta que me dês a morada.