22.12.14

BOAS FESTAS PARA TODOS

Corrida ao Centro Comercial. Estaciono onde não posso. Saio por onde não devo. Entro por qualquer sítio. Agarro um par de peúgas. São azuis ou pretas? Tanto faz? Empurrão pelas costas. Sou atirado à secção de pijamas. Vai um para o pai. Sei lá se é Large. Depois trocam? OK. Fixe. Lista, lista… Falta o bâton para a mãe. Irra, não tem desta cor. Então pode ser mais escuro. Esse, esse serve. Bip…SMS. “Para a família e tal, pois que o Natal, também para ti, o mundo melhor”. Não vem assinado. Sei lá quem é. Olha, “Igualmente”. Segue! Lista, lista… Agora é a secção infantil. “Não. Não quero embrulho”. E, a bem dizer também não quero pagar! Gente e mais gente escorre pelas escadas rolantes. Sempre à última hora! É pá, desisto. O resto fica para depois do Natal. Vou dar uns cupões em crédito para compras. O melhor é mesmo dar dinheiro… Porque não me lembrei desta antes!!! Alto… E o Bolo-Rei e as rabanadas! Volto a sair.  Bip… Entra mais um SMS. “Família que se cuidem p’ra pior já basta assim e 2009 também Santo para vocês”. Mais “Igualmente”. Fiquei sem dinheiro. Multibanco. Filas. Telemóvel em modo insistente. “Olá, estão bons?” Zás… Código. Carteira. Tudo no chão. “Só um minuto!”. “Quem fala?”. Máquina engole cartão. Fila impaciente. “Está”. “Bom Natal”. Pois…! Que se lixe o cartão. Não percebi quem era. Tarde passada em visitas sucessivas na correria acelerada. “Boas Festas… Para todos… Sim… Igualmente… Pois a crise… É a vida... Claro… A família… Tem de ser… É preciso é saúde…”. Consoada pontual no bacalhau cozido com couves e alho. A lampreia de ovos. Rabanadas. Bolo-Rei. Mesa em dourado. Prendas a despachar. Filhos da Fernanda. Os meus filhos ficaram com a minha ex-mulher. Vem também a ex-sogra da minha actual mulher. Os meus ex-sogros não vieram. Mas também porque haviam de vir? O neto da Fernanda pode vir hoje. Amanhã está com a ex-mâe, perdão, com a ex-mulher do filho que não é meu. O meu pai está no hospital. O meu futuro sogro também. A minha mãe não quer consoada. A madrasta da Fernanda também ficou por lá. Depois do jantar vamos lá a correr… Não sei fazer o quê! Dia 25, almoço com os futuros ex-sogros. Já não sei! Jantar com os meus pais e com os pais dos meus futuros netos. Enfim, filhos dos outros filhos que também são meus filhos. Ah, mas a namorada do meu filho não vai. Tem de ir à mãe que ao almoço esteve com o pai. Prendas despejadas à pressa, na pressa que o tempo passe… Onde fica o Natal no meio disto tudo? Boas festas para todos.
(Texto incluído no meu livro Post It).

5 comments:

Anonymous said...

Aqui na Piacaba não ouço falar disso...

João Menéres said...

Daqui a 15 dias é preciso voltar a empacotar os enfeites natalicíos !
O Natal fica à distância de 2 dias, Jorge.
Não se despiste.
E é à noite...
No dia seguinte, temos cá o ALMOÇO DE NATAL.
Há 50 anos que é assim !

Jorge Pinheiro said...

As tradições são para manter. Este ano tenho os meus filhos fora. Um na Sardenha, outro em Vila Real. Ainda bem que tenho os filhos da Fernanda e a minha mãe.

Li Ferreira Nhan said...

Tua crônica é atemporal.
É verdade que hoje em dia os SMS perderam a vez para o WhatsApp que acredito que muito em breve também será substituído.
Também por isso mesmo ela é atemporal.
:)
Jorge, desejo que tuas festas sejam fartas em carinho, saúde, alegria, comidas e bebidas!

Jorge Pinheiro said...

Obrigado e igualmente para todos.