17.12.14

SERRA D'OSSA - III

 
 
 
Entramos e mandam-nos logo calar. Um voto de silêncio difícil de manter para as mulheres. Os homens aguentam-se porque, basicamente, nada têm para dizer. O Convento de São Paulo fica na Serra D'Ossa. Hoje é um hotel. Mas quando foi fundado, em 1182, era um Mosteiro. Aqui fica um dos paraísos do azulejo. 
 
 
 
As paredes são uma banda desenhada, com legendas e tudo. Conta-se a azul e branco o Antigo e o Novo Testamento. Os azulejos são do século XVIII. Escaparam à pilhagem porque os monges entaiparam várias alas do Convento. A seguir à extinção das Ordens Religiosas, que começou ainda no período do Marquês de Pombal (Alvará de 1759), os bens foram incorporados na Fazenda Nacional e viriam a financiar os municípios. Mas o  Convento de São Paulo seria disputado entre os municípios do Redondo e de Estremoz durante 36 anos. No vazio de poder, as pilhagens sucederam-se e o que resta é fruto de um enorme esforço privado.
 
 
 
Os corredores sucedem-se. Longos e sóbrios no requinte do azulejo. Nada está a mais. Tudo é simples e, no entanto, nada poderia ser mais complexo. Imaginem-se percorrer um filme. A atravessar a Bíblia. Deslumbramo-nos com a visão ultra-realista dos desenhos cozidos no forno dos mestres e pensamos quantos mãos aqui trabalharam. Quantos planos foram feitos. Quantos esboços foram necessários. Quem eram. Onde estão.
 

E cansados de tanta reflexão, entramos na cela. Um quarto austero e simples. Um quarto sem ruído, onde o silêncio reina. Cá fora não se ouvem passos. Não há gritos de crianças. Não passam carrinhos de limpeza. Tudo é discretamente monástico. Estamos no reino de São Paulo "O Eremita".

2 comments:

daga said...

Tudo tão simples, tão belo e diferente! O silêncio, a solidão, a paz desfrutados a dois... deve ser o paraíso mesmo!

João Menéres said...

Bem me queria parecer que o Convento de S. Paulo não ia falhar...