19.4.15

MORTE TIBETANA - I

Conforme publiquei uns posts atrás, reencontrei na net o meu amigo Rui Oliveira que não via há mais de 30 anos. O Rui vive agora em Bruxelas e é monge tibetano. Temos mantido um diálogo activo, franco e muito informal. Como todos sabem, tenho um medo enorme de morrer. Sempre achei que se devia acreditar numa qualquer religião para facilitar o "passamento". Ando à procura de uma coisa que dê pouca maçada e tenha resultados garantidos. A religião católica não é má. Coisa simples. Umas missas, meia dúzia de confissões, umas hóstias consagradas e temos perdão assegurado. O problema é que não só não acredito em deus, como intelectualmente aquilo se se afigura fraquinho. Isto para além daquela construção teórica da trindade que mais parece um "três em um" manipulada por um bom publicitário de produtos de limpeza. Foi assim que, numa das nossas recentes conversas, interroguei o Rui sobre o conceito de morte para os tibetanos, na esperança de me poder ajudar. Nos próximos posts vou passar o que ele respondeu, em quatro episódios, para melhor absorção dos leitores.
"Segundo o Budismo, o corpo e a consciência são de natureza diferente. Estão intimamente ligados, mas a consciência não é produzida pelo corpo, está simplesmente associada a este enquanto este está vivo. Os diversos processos mentais (sensações, perceções, pensamentos, memórias, etc.) que se produzem graças à consciência estão intimamente ligados ao funcionamento eletroquímico do cérebro e dos outros centros neuronais do corpo (há imensos neurónios também na região do coração, no ventre...) mas não são produzidos por ele. Diga-se de passagem que a ciência atual confessa a sua incapacidade de explicar a natureza da consciência e a sua origem, o que é natural dado o ponto de vista exclusivamente materialista de qual ela parte". 
(Continua)
 

8 comments:

João Menéres said...

Vou seguir atentamente, Jorge !

Paulo said...

O conceito de trindade foi estabilizado por Santo Agostinho ou Agostinho de Hipona (354-430) precisamente em "A Trindade"- que recomendo a leitura. É um conceito muito elegante e, de certo modo, sofisticado e por isso não ao alcance de qualquer mente.
Quanto ao budismo, também no cristianismo existe o conceito de "alma" para explicar o (ainda) inexplicável, no âmbito do conhecimento científico.
Paulo o "pelagiano" (1953-?)

Silvares said...

Boa sorte, Jorge.

Li Ferreira Nhan said...

E lá vem vc com essa conversa s/ a morte...
:)

Jorge Pinheiro said...

Tem d e ser Li. Passamos a vida toda à espera desses momento.

Li Ferreira Nhan said...

Só se for vc. Eu nem penso ;)

Jorge Pinheiro said...

Então não se preocupe.

Li Ferreira Nhan said...

;))