3.12.16

COMIGO MESMO - I


A minha casa nunca teve nome. Podia ter-se chamado Vivenda Pinheiro ou Vivenda Noemy (a minha mãe chama-se Noémia). Podia até ter tido um nome mais foleiro: Sonho da Minha Vida ou A Nossa Casa. Mas não, nada disto, acabou ficando com o inócuo número de polícia 65 da Alameda Conde de Oeiras. Não sei se foi bom ou se foi mau. Uma casa com nome ganha relevo. Destaca-se. Impõe-se no contexto do bairro. Os números são coisas mais administrativas, sem brilho, sem sainete... Mas, por outro lado, passam mais despercebidos.
A minha avó Olinda (mãe da minha mãe) queria janelas para a frente na boa tradição brigantina de ver quem passa e cumprimenta quem passeia nas horas cerimoniais do Castelo até à Sé entre a Rua Direita e a Rua de Trás. Mas aqui, em Nova Oeiras, não passava ninguém que se visse, não havia castelo, nem Sé. Muito menos Rua Direita ou Rua de Trás. Ninguém para cumprimentar. Um deserto de gente e um mar de poeira. 

2 comments:

João Menéres said...

Bela crónica, Jorge !
Concorrência às do Eduardo...

Adorei a última frase :
Um deserto de gente e um mar de poeira.

Li Ferreira Nhan said...

Saudade de ler por aqui :)