3.12.16

COMIGO MESMO - II


A minha mãe ia a Paris levar os projectos da casa. O pai estava a fazer um curso, na École Supérieur de Guerre, no Champs de Mars, bem à frente da Tours d’Eiffel. Ali permaneceu dois anos, de 1959 a 1961, precisamente no tempo em que a casa foi projectada. Ele tinha de aprovar. Fazia ligeiras alterações que estão, aliás, anotadas nas plantas da moradia. Sim, que o meu pai era militar mas podia ter sido arquitecto, engenheiro, pintor ou mesmo escultor. Podia ter sido o que quisesse. E foi assim que a casa ficou virada a Oeste, de trombas para a casa do lado, em vez de ficar virada a Sudoeste, desfrutando do acesso directo ao jardim.
A verdade é que, naquele tempo, o conceito de jardim era muito intelectual. Coisa de excêntricos paisagistas. O conceito era mais de quintal. E para quem vinha da distante Bragança, a horta estava indelevelmente integrada no ADN familiar. Dividir os 700 metros quadrados de terreno não construído em leiras de couves-galegas, tomate, alface, cenouras, árvores de fruto variadas e umas quantas galinhas poedeiras legorne, era a transposição para a cidade da aldeia mitificada. Foi isso que foi feito pelos meus pais. Usar o terreno não para disfrutar, mas para agricultar. Um conceito que hoje volta a estar na moda.

3 comments:

João Menéres said...

E que tratem de praticar, pois sempre haverá umas batatas, umas cebolas, umas couves, e outros produtos a gosto.
E se puderem ter um galinheiro para o tenório ser feliz, melhor.
Um arroz de cabidela de ave pica no chão e ovos frescos, óptimo !
Se sobrar um nico de terreno, plantem umas flores e umas plantas aromáticas.

Li Ferreira Nhan said...

Ah, gente de Trás-os-Montes, fortes e sábios.
Meus avós trouxeram pra cá esse jeito de construir e viver.
E eu continuei essa história quando construi a minha casa.

Anonymous said...

Que boa ideia a sua de voltar a remexer no passado.