12.12.16

COMIGO MESMO - IX


Antes de ter sarampo pouco me lembro dos meus pais. Fiquei no quarto deles três ou quatro dias com luzes encarnadas nos candeeiros das mesinhas de cabeceira envoltos em papel de celofane. Devia ter uns três anos. A mobília era estilo “Queen Anne”, aquela que agora está na casa de Lagos, talvez um pouco fora do contexto estival. O quarto era arredondado, grande, muito grande. A minha mãe estava preocupada. O sarampo foi a minha grande revelação familiar. Afinal tinha pais. Afinal eles queriam que eu sobrevivesse. Descobri que era filho. Na verdade, é tudo o que me lembro. Na altura eles, os pais, deviam preocupar-se diariamente comigo. Não tenho dúvidas. Mas eu nem suspeitava. Os filhos são as pessoas mais ingratas e que menos memórias infantis guardam… e quando guardam baralham tudo.

2 comments:

João Menéres said...

É verdade.
E uma enorme injustiça involuntária da nossa parte !
Basta ver como os nossos filhos e nós avós olhamos encantados para os rebentos !
Pois fomos alvos da mesma atenção, mesmo havendo um batalhão de pessoal auxiliar para todas as tarefas.

Li Ferreira Nhan said...

Ótimo ter a memória em pleno funcionamento pra tantos detalhes.
Estou adorando tudo!
:)