No princípio
havia a Nair. Empregada e ama. Não me lembro bem, mas sei que existiu. Tomou
conta de mim na mais tenra idade. Depois veio a Alice. Uma governanta
recomendada pela avó Olinda vinda algures de uma aldeia perto de Bragança.
Tomou conta de mim e da casa. Uma moçoila encorpada profundamente católica,
membro da Ordem de Santa Zita. Uma freira sem hábito. Ficaria por cá até aos
meus 19 ou 20 anos. Detestava todas as minhas namoradas. Eu era o filho que ela
nunca teve nem nunca teria. A Alice voltou a Bragança e ficou zeladora da Igreja
de São Vicente. A última vez que a vi, falou-me algo displicentemente, como
falam os transmontanos quando não querem revelar os sentimentos mais profundos.
Morreu com 92 anos, possivelmente virgem e à espera de Jesus, como todos
provavelmente estamos, uns com fé, outros sem ela.
30.12.16
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6 comments:
A Nair devia ser brasileira, não ?A
A Alice queria-o como filho e como não era, queria-o só para ela.
Uma PROTECTORA também, digo eu...
A Nair era portuguesa. Nessa altura não havia migração do Brasil.
É que eu tenho uma prima brasileira que se chama Nair...
E migração de nomes, Jorge ?
Não tem porque reclamar. Foi muito bem criado e cuidado na infância, caro Jorge.
Bom Ano Novo.
Bom Ano também para todos.
A Alice pertencia a ordem correta; Santa Zita é padroeira das domésticas.
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