30.12.16

COMIGO MESMO - XIII


No princípio havia a Nair. Empregada e ama. Não me lembro bem, mas sei que existiu. Tomou conta de mim na mais tenra idade. Depois veio a Alice. Uma governanta recomendada pela avó Olinda vinda algures de uma aldeia perto de Bragança. Tomou conta de mim e da casa. Uma moçoila encorpada profundamente católica, membro da Ordem de Santa Zita. Uma freira sem hábito. Ficaria por cá até aos meus 19 ou 20 anos. Detestava todas as minhas namoradas. Eu era o filho que ela nunca teve nem nunca teria. A Alice voltou a Bragança e ficou zeladora da Igreja de São Vicente. A última vez que a vi, falou-me algo displicentemente, como falam os transmontanos quando não querem revelar os sentimentos mais profundos. Morreu com 92 anos, possivelmente virgem e à espera de Jesus, como todos provavelmente estamos, uns com fé, outros sem ela.

6 comments:

João Menéres said...

A Nair devia ser brasileira, não ?A
A Alice queria-o como filho e como não era, queria-o só para ela.
Uma PROTECTORA também, digo eu...

Jorge Pinheiro said...

A Nair era portuguesa. Nessa altura não havia migração do Brasil.

João Menéres said...

É que eu tenho uma prima brasileira que se chama Nair...
E migração de nomes, Jorge ?

Anonymous said...

Não tem porque reclamar. Foi muito bem criado e cuidado na infância, caro Jorge.
Bom Ano Novo.

Jorge Pinheiro said...

Bom Ano também para todos.

Li Ferreira Nhan said...

A Alice pertencia a ordem correta; Santa Zita é padroeira das domésticas.