19.12.16

COMIGO MESMO - XIV


O meu avô Francisco morreu subitamente (talvez de trombose) em 1958, estava o meu pai na Alemanha.
Não fui ao funeral e o meu pai também não chegou a tempo, coisa que o incomodou para a toda a vida. Também não me lembro de qualquer conversa sobre o assunto. Os adultos poupam-nos em excesso aos mistérios da morte. Lembro-me vagamente de ter ficado com o meu primo Luís a contar carros na janela da Ferreira Lapa, entregues aos cuidados da governata Alice, enquanto a família foi ao funeral, no Porto.
O corpo acabou por ficar no cemitério de Santarém, onde a tia Natália e o tio Amadeu residiam na época. Uma localização polémica que deu azo a discussões familiares infindáveis sobre a eventual transladação dos ossos para Oeiras que nunca se veio a verificar. A localização dos “restos” é uma questão relevante, mesmo para quem não observa o culto dos mortos. Ainda hoje, quando passo por Santarém, penso que está ali o avô e fico ligeiramente desconfortável.

1 comment:

João Menéres said...

Num caso ou noutro, os restos mortais tinham o Tejo por perto.
E o Rio primeiro passa por Santarém...