20.1.17

COMIGO MESMO - XL

Em 1974 dá-se o 25 de Abril. Bragança aderiu mais por dever de ofício do que por convicção. Mas, a verdade é que as estruturas formais foram drasticamente alteradas. O meu avô deixou de estar ligado ao que quer que fosse e em 75 viria para Oeiras por causa da doença da minha avó que, aliás, viria a falecer logo em 76 aqui em casa. Ele ficou por cá, sempre com grande empenho pelo quintal, mexendo e remexendo a terra, talvez saudoso da distante Bragança e do s...eu quintal de terra preta. De vez em quando desaparecia por algumas horas. Tínhamos de o ir buscar a um cafezito ali perto do bairro das Palmeiras.
Quando penso no meu avô, penso nele com grande carinho e respeito. Talvez ele fosse mais ríspido com os filhos. Connosco, os netos, era uma doçura. Lembro-me dele a fazer a barba logo de manhã. Um ritual matinal que ele seguia a preceito. Afiava a navalha, no já muito gasto assentador de couro, num movimento para cima e para baixo, alternadamente nos dois lados da lâmina. Depois ensaboava a cara com pincel e cortava diligentemente com a lâmina, mirando-se num pequeno espelho côncavo, daqueles em que os poros da cara parecem crateras de um vulcão em erupção. Talvez ele estivesse a tentar ensinar-me. Afinal, eu era o único neto macho.

2 comments:

João Menéres said...

Pois é, esses espelhos tornam os poros autênticas crateras.
Bragança, nessa altura, estava meia parada no tempo.
Não havia nunca pressa.

Anonymous said...

Todo avô é doce com os netos.