6.1.17

COMIGO MESMO - XXVII


Foi da janela do meu quarto, na Rua Ferreira Lapa, que vi gente a fugir. Ouvi balas. Pareciam estalinhos de Carnaval, daqueles que ia comprar à dúzia na Papelaria Fidalgo, ali na Rua Gomes Freire. Atrás da gente em fuga vinham soldados cinzentos com capacete e espingardas em riste. Estávamos em 1958, em plena campanha presidencial, com o “reviralho” a apoiar Humberto Delgado. Uma bala atravessou a bomba de gasolina da SACOR que ficava ali na Bernardim Ribeiro, a descair para a Bernardo Lima. Nos dias seguintes a vizinhança assustada, agradecia a Deus a sorte. A rua não explodiu e o regime continuou impune. Tudo sem replay exaustivo na televisão, que ainda não existia, para descanso da União Nacional.

1 comment:

João Menéres said...

Ao menos que a de gasolina não explodiu !