4.2.17

COMIGO MESMO - LIV


O uivo da sirene da Fundição de Oeiras tocava logo de manhã, ao almoço e ao fim da tarde… pontualmente. Aliás, durante toda a minha adolescência fui perseguido por aquele uivo fabril. Um uivo que chamava os operários de bata azul e que nos lembrava constantemente as horas a escoarem-se. Talvez seja por isso que recuso relógios e que ainda hoje tenho vómitos quando ouço uma simples ambulância ou um carro de bombeiros.
A Fundição (como era conhecida), hoje uma ruína votada ao abandono na expectativa de uma qualquer especulação imobiliária que a reabilite, era uma unidade industrial de elite no panorama nacional. Iniciada ainda no século XIX, na lógica da Revolução Industrial, como simples metalúrgica, passou a metalomecânica em 1921.
Entre 1956 e 1966, já sob a direcção de António Cardoso dos Santos, conhecido por “o Cardoso”, grande amigo de Ricardo Espírito Santo (do BES), que tinha conhecido em Paris e a quem se diz ter prestado um grande favor (fala-se de questões de protecção relacionadas com o período nazi e a ocupação de França) e, mais tarde, amigo de Salazar. A Fundição conheceu uma grande expansão (inclusivamente internacional).
Fabricava fogões, máquinas de lavar, banheiras, aquecedores, equipamento e, mais tarde, armamento militar. Em 1974 foi nacionalizada, na sequência da Revolução do 25 de Abril. Nos anos 80 (pouco tempo antes de fechar) ainda daqui saíram muitas granadas de morteiro para a guerra Irão/Iraque, que, aliás, seriam vendidas a ambos os beligerantes. Depois foi definhando, vítima de má gestão. Acabou por encerrar no final da década de 80.

7 comments:

João Menéres said...

No caso: Nacionalização = Má gestão.
Consequência : + desemprego.

E eu, Jorge, que tenho a mania de cumprir horas...

Jorge Pinheiro said...

Eu tb cumpro, mas sem relógio :))

Anonymous said...

Eu cumpro também...

João Menéres said...

É por intuição ?

Jorge Pinheiro said...

Os telemóveis ajudam.

João Menéres said...

AH !...
E que nome dá a ees auxiliar ?

Li Ferreira Nhan said...

Uma pena que a fundição tenha fechado as portas.
Por aqui estamos na luta para não fechar a nossa.

Estou acompanhando o "Comigo Mesmo" por aqui e pelo face, lá o acesso é mais fácil.
Como sempre e pra nossa sorte, tua escrita é pra lá de boa. Continua.

(Vou comentando qdo posso; quase dois meses de molho)