8.4.08

MONTE ESTORIL

Depois do Estoril, S. João e S. Pedro, vamos hoje falar da história do Monte Estoril que, aliás, começa antes dos outros "Estoris".
Antigamente este sítio chamava-se "Costa de Santo António" ou "Pinhal da Andreza". Os pinheiros vinham até ao mar em fileiras cerradas, caindo abruptamente sobre a praia, num devaneio atlântico de solidão absoluta. Um paraíso vegetal.
José Jorge Torresão foi o primeiro a violar estas terras, construindo, num alto sobranceiro à praia, um "chalet" a que deu o nome de "Vila do Rio" (já não existe). Torresão não se ficou por aqui e fez mais "chalets", todos eles já demolidos por não se coadunarem com as pretensões luxuosas exigidas para aquele elegante rincão. Em breve chegaram outros invasores. Fausto de Figueiredo, João José Bastos e o Dr. Manuel Duarte que espantou tudo e todos com uma moradia cuja fachada era em estilo arquitectónico de jazigo (na foto). O portão de entrada em vidro, que mais tarde seria moda, só então se usava nos cemitérios de Lisboa! Depois apareceu Carlos Anjos que construíu inúmeras moradias de madeira a que dava o nome das filhas (devia ter muitas) e que logo vendia. Foi ele que levou a água para o sítio. O Monte começava a entrar na moda e a aristocracia descobriu-o.
Por volta de 1882 cria-se a "Companhia do Monte Estoril", com o capital de 225 contos. Até então só tinha urbanizado a faixa que ladeava a estrada para Cascais. A "Companhia" pretendia urbanizar luxuosamente o alto do Monte Estoril! Abriram-se clareiras na mata. Demarcaram-se talhões. Pavimentaram-se arruamentos. Começou a escavar-se um enorme lago, onde hoje é o Bairro Escolar. Abriram-se os caboucos de um hotel de classe internacional. Planeou-se uma linha férea de via reduzida, com cremalheira, que garantiria o transporte da estação da CP até à estância turística, lá no alto (ainda hoje há vestígios). A "Companhia" faliu poucos anos depois. Ficaram os arruamento e as demarcações dos lotes que iriam permitir que o Monte se cobrisse de casario mais cedo do que os restantes "Estoris".
A casa de Fausto de Figueiredo, chamada "Pinheiro Manso", viria a ser vendida e a dar lugar ao "Hotel Atlântico", sobranceiro ao mar e refúgio dos espiôes alemães na II Guerra Mundial. A rainha Maria Pia esteve aqui instalada com a família real. Primeiro na casa da "Vista Longa", hoje entaipada pelo casario mais moderno que ladeia a Marginal. Encantada com o clima ensolarado que contrastava com a humidade da Cidadela de Cascais, onde tinha residência, acabou por comprar uma casa apalaçada com torreão de telhas azuis e encarnadas, em frente ao mar. A "Quinta das Águas Férreas", como era chamada, viria a ser devassada pel traçado do comboio de Cascais. A casa de Alfredo da Silva, também situada nessa Quinta, é o palacete amarelo, eriçado de chaminés e erguida sobre uma empena alta, com semelhanças a um fortim. Ao lado, a mata da Casa de Palmela. Termina aqui o urbanismo do Monte Estoril.
Antes do Casino Estoril, muito antes, havia no Monte o elegante "Casino Internacional", inicialmente instalado no "Hotel Miramar", com magnífica vista de mar. Aqui se perderam grandes fortunas, muito antes das populares "slotmachines" entrarem em acção. O casino viria depois a ser reinstalado num outro local, até ao seu encerramento, no final da II Guerra Mundial.
O Monte Estoril perdeu rapidamente o seu cunho aristocrático, a partir desta altura. O projecto da "Companhia do Monte Estoril" falhara. Surgiu a "Sociedade Estoril" e o Estoril (Santo António) arrebatou-lhe a primazia.
Hoje o Monte mantém uma aura e uma vivência muito próprias. Sítio calmo, continua a ter um ar bucólico e elegante no meio da selva urbana em que se vai transformando a Linha.
jp
Texto baseado no livro "Memórias da Linha de Cascais", de Branca de Gonta Colaço e Maria Archer.

2 comments:

ortega said...

No entanto (a linha) continua a ser o melhor local (urbano) para viver em Portugal. Para mim o único.

Jorge Pinheiro said...

Sem dúvida, mas com preferência absoluta para a faixa de 500 metros frente ao mar. Para trás, sei não...