6.4.08

NÃO SER

Quem me dera voltar à inocência
Das coisas brutas, sãs, inanimadas,
Despir o vão orgulho, a incoerência:
Mantos rotos de estátuas mutiladas!
Ah, Arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah, Poder ser apenas florescência
De astros em noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
Ser haste, seiva, ramaria inquieta
Erguer ao Sol o coração dos mortos
Na urna de oiro duma flor aberta!
Florbela Espanca

2 comments:

Anonymous said...

Para si:

«Aquele que é benigno para com os outros,
o que ama as nobres raças dos homens,
antiquíssimas todas, naturais,
o que dá aos seus o perdão do mal
e tira do seu saco o grão para os outros
é hoje o santo, pois cada século
tem os seus próprios sacrifícios e graças.»

Fiama Hasse Pais Brandão

Jorge Pinheiro said...

Obrigado pelo luminoso poema.