19.9.08

AVENTURAS DE ARNALDO ROCHA - ELÉCTRICO 15

Como dizia Santo Agostinho, o tempo não existe: o passado já passou; o futuro ainda não chegou; o presente acabou de passar.
Arnaldo Rocha é um agente especial da poderosa "Organização" que tenta, desesperadamente, criar o "Quinto Império", a união do norte e do sul, do leste e do oeste. Arnaldo Rocha percorre o tempo atrás do mito.
Publicação simultânea no Brasil ("Varal de Ideias") e em Portugal ("Expresso da Linha"), às terças e sextas feiras.
EPISÓDIO II (continuação)
Lá fora chove. Chove muito. Chove sobre tudo … e sobretudo chove. Arnaldo Rocha entra húmido no táxi. “Para a Residencial Ninho das Águias”, indica ao condutor. O táxi segue pela Avenida do Aeroporto e enfia pela Almirante Reis abaixo. Ao fundo, chegando ao Martim Moniz, viramos à esquerda pela Calçada dos Cavaleiros. Rua sinuosa e estreita, marcada pelos trilhos de eléctrico. Numa curva apertada à esquerda, a Rua do Bem Formoso levar-nos-ia ao Intendente com a sua nova geração de desgraçados. Mais acima, voltamos definitivamente à direita pela Costa do Castelo, rua apertada entre casas e carros mal estacionados, que nos deixa no número 74: a “Residencial Ninho das Águias”.
A penumbra adensa-se na noite lisboeta. A chuva mantém-se inclemente. Pingos de água caem como pérolas, esmagando-se no asfalto negro. São nove horas. O táxi parte, deixando Arnaldo com a mala castanha frente a uma porta aberta para dentro de um muro cinzento sem limites.

Entra para um saguão mal iluminado e estreito, quase um poço. Sobe trinta e oito íngremes degraus de uma escada em caracol, que o leva ofegante até nova porta agora fechada. Toca… Ao lado, dois papagaios residentes numa gaiola incrustada na parede olham-no com curiosidade.
A porta abre-se automaticamente e, novamente, enfrenta a chuva imparável.
O “Ninho das Águias” eleva-se em frente. Uma velha moradia, tipo “chalet”, em azul bébé. Dois andares, culminados num minarete redondo que domina Lisboa inteira. No jardim, uma esplanada de maracujás sobrevoa o casario desencontrado que, ao longe, se despenha na vertigem das sete colinas opacas de neblina.
Ao fundo, lá em baixo, a mole enorme do Hospital de S. José, com a habitual procissão de ambulâncias uivando à tempestade, no afã de entregar despojos humanos na urgência da noite.
Arnaldo corre encharcado até à entrada da pensão. Sobe três degraus. Cumprimenta o velhote que cabeceia na estreita recepção encimada por duas águias empalhadas. Recebe, como de costume, a chave do quarto número sete e, sem mais formalidades, retira-se para os seus aposentos.
Pé direito altíssimo. Paredes de tabique. Ao meio uma cama enorme, que talvez desse para três pessoas. Uma cómoda e um roupeiro rudimentares. Quadros com paisagens africanas. Dois candeeiros prateados de pé alto, projectando para o tecto, um de cada lado da cama, qual “boite” dos anos cinquenta. Uma porta envidraçada dá directamente para o jardim, permitindo fuga rápida em caso de necessidade.
Na casa ao lado, a luz acesa de uma janela sem cortinas deixa ver uma mulher jovem debruçada sobre o teclado de um “lap-top”.
Arnaldo aproxima-se da porta envidraçada e olha para o quarto em frente, onde a jovem mulher continua o seu ritual computorizado. De repente a janela apaga-se duas vezes. Sinal combinado. A missão pode continuar…
(continua na 3ª feira)
jp

10 comments:

Maria Augusta said...

Que passeio por Lisboa sob a chuva e o suspense da narrativa se mantem com perfeição. Estou completamente "scotchée" na trama, aguardo ansiosamente o próximo episódio.
Abraços.

Sugestão : colocar no final de cada episódio (ou antes) os links para os precedentes.

Anonymous said...

Maria Augusta,

é uma boa idéia, porém esta dito que é TODA SEXTA E TERÇA, e assim fica fácil de acharem. Mas nunca é demais! Navegante quer moleza!rsrsrs

Tem razão, os episódios são de muito suspense e interessantes pela ambientação!
Parabéns ao autor!

Anonymous said...

Mas que bela ideia, Jorge!
Fui a correr ler o primeiro episódio e fiquei cheia de vontade de ler o próximo. Cá estarei na 3ª feira!
Mas espero sinceramente que chegue a ser livro. Apesar destas navegações serem fantásticas, não há nada que se lhe compare.
Beijos
Bela

Alice Salles said...

voces tinham que fazer um blog para essa historia!

Só- Poesias e outros itens said...

Ando gastando papel para imprimir seus escritos.
Uma maravilha de contos fantásticos, surreais.

bjs.

JU Gioli

Só- Poesias e outros itens said...

Concordo com a Alice Salles, da criação de um blog para essas histórias...

bjs.

JU Gioli

Jorge Pinheiro said...

Ainda bem que estão a gostar. Esta é a primeira de 5 histórias (cada uma em vários episódios) e todas se relacionam, na sua estranha forma de ser. A ideia do blogue tem, para mim,um problema. Depois de esgotadas a histórias, fim do blogue. Então mais vale ficar neste que tem mais animação!

Jorge Pinheiro said...
This comment has been removed by the author.
Anonymous said...

"Há" que tempos, krido expresso...já pareço o Al...

Jorge Pinheiro said...

Bela: não te "via" HÁ que tempos. Obrigado Rose. Aliás acabei de ter uma ideia!