
Num dia de incursão à Custódio Cardoso Pereira, saudosa loja de instrumentos que viria a arder no incêndio do Chiado, descubro lá nos fundos da loja, um velho vibrafone “Premier” ao alcance do meu sonho. Alguém o tinha encomendado e depois desistido. Ficou para ali sozinho e abandonado, sujeito a alugueres esporádicos de orquestras sinfónicas, louco por se libertar, doido para vibrar, ansioso por ter dono.
Depois de morosas negociações acabei embarretado a pagar quinze contos (quatrocentos contos, a preços de hoje). Se atendermos que o instrumento estaria pago e mais que pago pelos alugueres à Gulbenkian, foi um excelente negócio para a loja e o começo de um grande amor para mim... O dinheiro só serve para sermos felizes!
Mas o vibrafone introduziu novos desafios para a banda: mais espaço para ensair e novas sonoridades para explorar. O vibrafone é uma mesa acústica grande e pesada. Precisa de muito espaço para o executante se mexer à vontade.
Procurar locais para uma banda ensaiar era, é e será sempre um pesadelo. Ninguém gosta de nós: imenso barulho; tabaco; erva; bebidas; manadas de “groupies”; contra-ciclo horário permanente... Andámos com a tralha às costas por sítios inenarráveis.
A arrecadação da casa do Rodrigo, com dez metros quadrados. A bateria e o vibrafone ocupavam metade do espaço. Qualquer descuido significava enfiar o braço da viola no olho do pianista; uma explosão do baterista podia fracturar o escalpe do flautista; o violinista não podia estender o arco sem perfurar as goelas do baixista.
Seguiu-se a S.U.M.E.O., Sociedade União Musical e Escolar de Oeiras, mais conhecida pelos “Carecas”, bem no centro da vila pombalina, onde hoje funciona um “Mini Preço”. Fomos parar ao sotão, paredes meias com um velho porteiro e respectiva velha mulher que, de raiva, estendia provocatoriamente cuecas encardidas e lençóis com cheiro a mofo, exactamente no local em que ensaiávamos, com grande desrespeito pela cultura. Era uma guerra de nervos e decibéis. Acabámos a perder por falta de comparência.
Ainda passámos, esporadicamente, pelo anexo da minha casa, o chamado “barracão”, com profusão de janelas e péssimas condições acústicas. Finalmente instalámo-nos na cave de um palacete em Santo Amaro de Oeiras. Uma sorte que só o "25 de Abril" permitiu.
jp
12 comments:
O barracão em paço d’arcos? Jorge tens o catálogo da expo da Frida?
Claire: O barracão em Oeiras,em minha casa. Que catálogo? Não sei de nada.
gosto destas histórias à segunda!
LISBOA - PORTUGAL
Olá!
Cheguei a este blogue através de outros que costumo visitar e neles postar comentários. Cheguei, vi e… gostei. Está bem feito, está comunicativo, está agradável, está bonito – e está bem escrito. Esta é uma deformação profissional de um jornalista e dizem que escritor a caminho dos 67…, mas que continua bem-disposto, alegre, piadista, gozão, e – vivo.
Só uma anotaçãozinha: Durante 16 anos trabalhei no Diário de Notícias, o mais importante de Portugal, onde cheguei a Chefe da Redacção – sem motivo justificativo… pelo menos que eu desse com isso… E acabo de publicar – vejam lá para o que me deu a «provecta» idade… - o me(a)u primeiro livro de ficção «Morte na Picada», contos da guerra colonial em Angola (1966/68) em que, bem contra vontade, infelizmente participei como oficial miliciano.
Muito prazer me darás se quiseres visitar o meu blogue e nele deixar comentários. E enviar-me colaboração. Basta um imeile / imilio (criações minhas e preciosas…) e já está. E se o quiseres divulgar a Amiga(o)s, ainda melhor. Tanto o blogue, como o imeile, tá? Muito obrigado
www.travessadoferreira.blogspot.com
ferreihenrique@gmail.com
Estou a implementar e desenvolver o projecto que tenho para o meu www.travessadoferreira.blogspot.com e que é conferir ao meu/vosso/NOSSO blogue a característica de PONTO DE ENCONTRO entre os Países fraternalmente ligados – Portugal e Brasil. E outros PALOP e etc…
Se me enviares o teu IMEILE, poderei enviar-te «coisas» que ache interessantes. Se, porém, não as quiseres, diz-me que eu paro logo. Sou muito bem-mandado (a minha mulher que o diga…) e muito obediente (cf. parênteses anterior). Abrações e queijinhos, convenientemente repartidos e distribuídos
– Desculpa por este comentário ser tão comprido e chato. Como a espada do D. Afonso Henriques…
- Já conheces o me(a)u «Morte na Picada» que acima menciono? Há quem diga que é muito bom. E até que é o melhor que se escreveu em Portugal sobre o tema. Dizem… Obviamente que não sou eu a dizê-lo… Só faltava… E também há quem tenha escrito que é SANGUE & SEXO… Malandrecos… Pelo sim, pelo não, compra-o.
Depois de o leres, se, por singular acaso, tiveres gostado dele, terás de comprar muitíssimos mais exemplares. São excelentes prendas de aniversários, casamentos, divórcios, baptizados, e datas como Natais, Carnavais, Anos Novos, Páscoas, Pentecostes, vinte e cincos de Abris, cincos de Outubro, dezes de Junhos. Até para funerais. Oferecer o «Morte» na morte fica bem em qualquer velório que se preze. E, além disso, recomenda-o, publicita-o, propagandeia-o, impinge-o aos Amigos, conhecidos, desconhecidos & outros, SARL. Os euros estão tão raros e... caros...
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A editora da obra é a Via Occidentalis (occidentalis@netcabo.pt) cujo site é www.via-occidentalis.blogs.sapo.pt. Neste blogue podem ser consultados mais dados sobre o livro, cujo preço de capa é € 14,70. ATENÇÃO: Pode ser comprado pela Internet.
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NOTA IMPORTANTE: Este texto de apreciação e informação é similar em todos os casos em que o utilizo. Digo isto, para quem não surjam dúvidas ou suspeitas sobre a repetição em diferentes blogues. E para que ninguém se sinta ludibriado – ou ofendido… Há feitios que… Mas, sublinho, apenas o uso quando o entendo, isto é, quando gosto mesmo dos que visito. Nos outros onde também vou, se não gosto, saio sem comentários. Há muitos mais. Aqui na terrinha diz-se que «se não gostas, põe na beirinha do prato…»
Adorei a sua história. Uma grande aventura pela música.
Linda flor para o Flowers de hoje.
bjs.
JU Gioli
O "braço da viola no olho do pianista" ? Mas com que raio de músicos andaste p'raí metido ?...
Sôdona: ainda bem que gostas. Fica atenta aos próximos episódios. São devastadores!
Antunes Ferreira: obrigado pela visita. Vá aparecendo, com todo esse entusiasmo.
Ju: e a história continua, sempre às segundas.
Al: de facto são os músicos são todos um bocado esquisitos. Não é?
Na Ju soube que tinhas visto a exposição da Frida Kahlo, há um quadro que gostaria de rever que talvez no catálogo....
Tb gosto muito destas historias e tenho pensado como as levar para o blog, creio que se as tivesses com marcadores bastava 1 link.
Beijitos
Claire: Ah, a Frida... Não estava a ver o filme. Pois eu fui ver mas não fiquei com catálogo. Podes levar a história, mas eu não uso marcadores...! E agora?
Gostei da frase "O dinheiro só serve para sermos felizes". Parece que a solução (encontrar o sonhado vibrafone) gerou um problema (encontrar lugares espaçosos para ensaiar). Na vida é sempre assim, tudo tem 2 faces, mas são estes percalços que nos fazem avançar, né?
Abraços.
É isso mesmo, Maria Augusta.
Gostava de saber mais sobre a vossa banda. Também tive uma aqui em Oeiras e também ensaiei nos Carecas.
Gostava de saber quando foi e que elementos tinha a ver se conheço alguém.
Um abraço
Zé David
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