24.6.09

D. DINIS - A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA

"Minha Pátria é minha língua"... Pois, mas uma nação só existe depois de ter língua. Estados com mais de uma língua só existem enquanto as nações que o constituem tiverem vantagem nisso. Casos da Bélgica ou Suiça são disso exemplos. Em Portugal, depois da reconquista e da autonomia relativamente ao reino de Leão, faltava uma língua própria que identificasse o povo como nação. O desenvolvimento de um idioma é uma peça essencial na consciencialização da nacionalidade. As línguas não nascem de geração espontânea. Provêm da conjugação de diversos factores e passam por fases sucessivas de evolução, da gestação, à infância, da adolescência à maioridade. O galaico-português seria uma amalgama complexa de raiz indígena, latim, visigótico e árabe. Falado desde a Galiza até à margem direita do Tejo começou a distinguir-se das outras línguas peninsulares, algures entre o séc. X e XI. Foi talvez o momento em que o povo português tomou consciência da sua personalidade colectiva, da sua envolvente regional. Não seria ainda uma língua. Talvez um dialecto, mas cheio de possibilidades. A personalidade portuguesa desenvolvia-se a par do uso da língua. A Galiza ficou para trás, incapaz de se libertar do jugo de Leão e de Castela. Portugal conquistou a ferro e fogo o seu espaço vital. Depois de cinco monarcas guerreiros era, agora, preciso um monarca culto e pacífico. Nem sempre a História acerta. Mas neste caso acertou em cheio... e com bónus. D. Dinis (1261-1325) governou durante 46 anos!
Foi D. Dinis que emancipou a língua ao decretar que os documentos oficiais deixassem de ser exarados em latim e passassem a ser redigidos em português corrente. Uma medida simbólica que a par de outras criou definitivamente uma nação. Este é o começo da língua portuguesa que um século depois nos daria Fernão Lopes, porventura o melhor cronista medieval da Europa, e no séc. XVI vultos como Gil Vicente, Camões, João de Barros, Damião de Gois ou Fernão Mendes Pinto. D. Dinis, esse rei-poeta, criou uma universidade (os Estudos Gerais), mandou traduzir inúmeros livros, favoreceu as artes em geral e, em especial, a poesia de raiz provençal, nas cantigas de amigo e de amor que para sempre deram uma alma poética aos portugueses. A par de tudo isso, ele é o grande construtor da municipalidade em Portugal, das primeiras reformas administrativas, da limitação dos poderes do clero e da nobreza, da criação da Ordem de Cristo e percursor dos "Descobrimentos". Casado com a Rainha Santa Isabel (de Aragão), teve ainda tempo para fazer cinco filhos bastardos.
Como já perceberam, D. Dinis é o meu rei preferido. Em próximos posts vou falar sobre este longo reinado, sobre a personalidade do rei e sobre as incidências da época.
jp

8 comments:

Teresa Diniz said...

E que bem escolheu o seu rei preferido. Foi um dos nossos mais longos e importantes reinados e, por qualquer razão, é pouco lembrado. Ficou como o plantador do pinhal de Leiria, quando fez outras coisas muito mais importantes, como a fixação da língua portuguesa, hoje espalhada pelo mundo.
Parabéns pelo post. É sempre importante recordar a História.

Lília Abreu said...

Bem,
Claro que o Rei-Trovador (ou Lavrador - que constrate) tinha que ser o teu favorito. A música e as trovas.
Agora é que vou ficar culta, rs - mas estes posts prometem, pois ele deu um grande impulso à cultura, entre outras coisas, descansou da guerra. E, Lisboa, passa a ser um centro cultural de peso.
Venham os próximos...
PS: já agora, há muito tempo, a propósito de Odivelas, ouvi dizer que era um dos locais predilectos onde d dinis ía prevaricar - daí "Ide Ve-las" ter dado em odivelas. Nunca vi se havia algum fundamento...

expresso said...

Obrigado Teresa. Vamos ver se estou à altura.
Dulcineia: claro que Odivelas tem tudo a ver com D. Dinis e com... marmelada. Lá chegaremos.

Li Ferreira Nhan said...

Eba, história nova!!!!

Susana Falhas said...

Gostei muito da tua postagem! Parabéns!
De facto D.Dinis foi um rei fora de série! Era muito culto, pois até canções de amor escrevia, como aquele famoso "verde pinho".

E apropósito de D. Dinis, este fim de semana Trancoso (Guarda) está em festa, onde mais uma vez haverá uma recriação do matrimónio entre D. Dinis e D. Isabel de Aragão.Pois foi lá que se casaram. Eu vou assistir e depois contarei como foi.
Ps: Relembro que os resultados da blogagem é dia 3o de Junho.

Abraço, Susana

Jorge Pinheiro said...

A época de D. Dinis é fascinante!

Lília Abreu said...

Mas, afinal, ele sp "ía V^-las" a Odivelas ou nem por ~isso? já agora, ficava a saber...

Maria Augusta said...

Depois das guerras, a consolidação da nação com sua própria língua e com o desenvolvimento das artes. Este rei-poeta parece que chegou na hora certa!