9.6.09

A MINHA ALDEIA SOU EU

Eu não tenho aldeia. A minha aldeia sou eu. Trago dentro de mim todas as aldeias. Aldeias que são. Aldeias que foram. Aldeias que nunca serão. Eu sou a minha aldeia. Aldeias são ideais. Paraísos perdidos. Bucólicas passagens do tempo. Saudosos espaços ancestrais. Eu não tenho aldeia. Olho os prédios que crescem nas cearas. As estradas que cortaram vinhedos. Olho os campos que já não são. Oliveiras seculares que fugiram de horror. Pomares frondosos que perderam a Primavera. Malmequeres bravios que deixaram a alma na beira da estrada. Papoilas cercadas no alcatrão corrosivo. Eu sou a minha aldeia. Uma aldeia que resiste a tudo. Já não existo nela. É ela que existe em mim. A minha aldeia mora dentro de mim. É o futuro e o passado. Ontem vida. Hoje deserto. Amanhã ideia. A minha aldeia são todas. E eu sou todas e nenhuma. Todas elas vivem em mim. Porque nenhuma são todas. E todas elas existem nas pedras escorregadias das margens do caminho. Nos pés descalços que me percorrem nas noites de insónia. Nos telhados beirados que as andorinhas teimam em visitar. Nas vielas estreitas e tortuosas que sobem até ao largo da igreja. Nos estendais brancos pendentes nas sacadas de granito. Nos chocalhos dos rebanhos que retornam plácidos ao estábulo vicinal. Nos excrementos das cabras que se escondem na palha sazonal. No ladrar longínquo dos cães ecoando no silêncio morno da tarde. Nos galos matinais que despertam o dia na loja dos fundos. No murmurejar límpido da água chamando pelos cântaros quebrados. Nas crianças que brincam risonhas naquele Verão que não aconteceu. Nas casas velhas em que velhos aguardam as noites tristes que o tempo corrompe. Nas panelas tripeças no lume frio da madrugada geada. Cheiros que se entornam da vida para sempre. Recordações perenes de saudade eterna. Aldeias são ideais. Eu não tenho aldeia. A minha aldeia sou eu!
jp
Este texto integra a blogagem colectiva do blogue "A Aldeia da Minha Vida", onde poderão ser apreciadas e votadas outras participações. A votação decorre exclusivamente naquele blogue e basta deixar um comentário identificado.

29 comments:

João Menéres said...

Estava cheio de curiosidade para ver o seu texto. Não foi surpresa total a sua leitura. Eu estava à espera que desconstruísse. Mas fez um óptimo texto que eu muito aprecio.
Aliás, sabe bem, como eu deliro com este seu género de escrita!

Parabéns e um abraço.

Elma Carneiro said...

É para delirar, emocionar, sentir ternura, saudade, é degustar cada uma das palavras carregadas de sentimentos, escritos de uma forma muito difícil de encontrar numa maravilhosa linguagem, gostosa e ritmada.
Parabéns, ainda bem que posso comentar, demonstrar minha emoção e saio daqui comovida e feliz. Tudo isso me faz bem a alma.
Parabéns!!! Sua aldeia é linda!
Obrigada.
Beijo

Anonymous said...

Guarde bem essa aldeia dentro de si.
Adorei o texto!

Beijo.

Anonymous said...

Como a Elma e o João já disseram, não vou repetir TUDO. Mas é exatamente o que penso do seu delicioso texto! Já GANHOU!

Anonymous said...

Belo texto. Um bom exemplo de como a poesia pode ser escrita em prosa. Parabéns

Lília Abreu said...

Hummm
Já tinha saudades destes textos...
Nostalgia, caos urbano, mordácia camuflada.
Parabéns!

lapsus said...

Uma surpresa, confesso.
fantástico. Mesmo.
Abraço
Paulo

Anonymous said...

Texto sensivel e muito bonito!Adorei cada linha!Abraços,

Susana Falhas said...

José, a tua criatividade é espantosa! Apesar de teres saido um pouco da temática da blogagem, é um bom momento de reflexão sobre a questão das aldeias. Também poderiamos considerar o mundo das blogagens como uma autêntica aldeia, em que todos se falam e se conhecem e são grandes amigos!

Gostei da tua participação.

Que vença o melhor!

A votação começa amanhã, dia 10 e acaba dia 28 de Junho.

Vamos ter bastente tempo para ler e reler todos os textos, para depois escolheremos o melhor, não é verdade?

Bjs Susana

Ví Leardi said...

Maravilha..quase podia ser também a próxima Tertulia ...meu voto é certo!! :-))

Anonymous said...

ehehehe... isso é o que todos os alfacinhas dizem :) meus amigos(as) dizem o mesmo!

e eu também não tenho aldeia porque não nasci cá, mas tenho terra eheheh (dos pais)
e sendo assim fico a ganhar-lhe :)
beijinho

Sandra said...

Embora, não estou concorrendo, tbém me escrevi para participar.
Venha me visitar e veja se gostou.
Claro que tive que pesquisar.
Sandra

Mena G said...

Muito bom, pois claro. Nem poderia ser de outra forma.

Maria Augusta said...

Você nunca sera um estrangeiro em lugar nenhum pois carrega a tua aldeia dentro de você aonde for...
Texto muito lindo, poesia pura, parabéns!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ said...

Jorge, mesmo tendo a sua aldfeia dentro de você, imagino que essa aldeia é um lugar concreto pra você. Longe dela, é como um passarinho sem ninho.

Abracos

Mírian Mondon said...

Jorge, seus textos não decepcionam, existe tanta poesia em voce que nào poderia ser diferente.
Amei, queria ter esse texto em algum lugar, para ler sempre... talvez num papel dentro de um livro que não canso de abrir.

Tambem participo dessa blogagem, não como concorrente, mas prestando homenagem a Portugal e ao seu povo que tanto amo!

Ruvasa said...

Viva, Jorge!

Somos dois.

Belo texto, comme d'habitude.

Abraço

Ruben

Mylla Galvão said...

Que texto MARAVILHOSO!!!
Saboriei cada palavra...
Lindo...
Tem novidades nos meus blogs...
Passa lá...
Abraços

Castela (Portugal Notável) said...

Amigo
Tem aqui um belo blog.
É bom sabermos que estamos colectivamente a participar na blogagem colectiva “A Aldeia da Minha Vida” e assim a contribuir para a divulgação do nosso País.
Parabéns pelo seu texto.
A partir de agora estarei atento ao seu blog.
Um abração
Castela

Anonymous said...

Jorge,

procurei entre as MUITAS aldeias no blog específico para VOTAR e não encontrei a sua! Será porque é muito íntima e particular? Mas vou voltar e vasculhar entre as MUITAS aldeias desse lindo país!

nd said...

Olá,

O texto é belíssimo. Parabéns !

Vc poderia me dizer como faço para participar da Tertúlia Virtual ?

Bjs.

Isabel Magalhães said...

JP;

BELÍSSIMO o teu texto!

O meu forte aplauso.

[]

I.

Marta said...

Bela prosa poética!

É uma aldeia de todos!
Uma aldeia do mundo!
Uma aldeia imagética!

roserouge said...

Xi, cheguei tarde, o apelo do Guincho foi mais forte. Mas gostei muito, andas feito cá um poeta...

Sandra said...

Olha!
Embora não poder concorrer, eu fiz também a postagem sobre a minha aldeia. Fui na internet e pesquisei. Fiz um um texto, ligando os fatos, principalmente com historia de Jaraguá do Sul, em função da Princesa Isabel, ter recebido com dote, alguns lotes em Jaraguá do seu pai.
Mas amei pesquisar sobre Portugal. Entrei nessa, pelo blog do João e valeu a pena.
Quando vc. tiver um tempinho venha conferir.
E ganhe selo do blog.
Parabéns pelo seu trabalho.
Sandra

Anonymous said...

Oi
Gostei....Trocadinhos inspirados no tudo e no nada......presente ,que já é passado....
Quanto ao titulo...fizeste-me lembrar o RUCA...
SOU EU....

Oeiras centro

EXPRESSODALINHA said...

Oeiras Centro?!

Susana Falhas said...

João Pinheiro:

Agradeço a sua opinião, que a organização vai ter em conta.

Quando a organização pensou em fazer esta blogagem, Teve em conta o facto dos bloguistas activos actualizarem, e muito bem, diariamente os seus blogues. Tendo em conta de que se correria o risco de o texto que concorre ao prémio poderia deixar de ser visível ,devido a actualizações do blogue, pensámos criar este livro virtual para que todos os textos continuassem visíveis e disponíveis a todos os bloguistas e leitores, que queiram consultar ou convidar outros a consultar, de modo a terem a oportunidade de ler os textos de praticamente 40 participantes. Todos os paticipantes têm no final de cada texto um link directo para o mesmo artigo publicado no blogue original, de modo a ultrapassar esssa situação que apontou.

O objectivo desta blogagem é dar visibilidade às aldeias, que no entender dos participantes, merecem "um lugar ao sol", pelo menos durante esta blogagem.

A pensar nos bloguistas, curiosos, amantes das aldeias decidimos alongar para 18 dias, uma vez que sabemos que muitos deles não tiveram, ainda a oportunidade de conhecer este livro virtual, pelo facto de esta semana (10 a 14 de Junho) estarem de férias .

Para os que ainda não tiveram a oportunidade de ler o seu texto, aconselho-o a manter o cartaz da blogagem na barra lateral , com o respectivo link para este blogue,convidando-os a ler e votar.

Mais uma vez agradeço o seu ponto de vista, que é bastante pertinente. E volto a agradecer a sua participação (texto) ,deveras original.

Espero que compreenda o contexto e o nosso ponto de vista.

Um grande abraço,
Susana Falhas

Anonymous said...

Oi
Sim Oeiras Centro. Sabes onde fica a Igreja? É mesmo a parte velha.....a sua hitória....
SOU EU....

Oeiras Centro