Os Tapajós, na zona amazónica, desenvolveram um sistema político-social específico - os cacicados- em que uma aristrocacia controlava os poderes militares e religiosos, prosseguindo uma política agressiva e expansionista, possuindo inúmeros escravos provenientes da guerra com povos vizinhos. Este modelo é uma excepção ao conjunto das comunidades indígenas ameríndias.
A generalidade dos povos, incluindo os Tupi-Guarani, adoptou uma forma de organização de grupo local (a TABA) que se situava numa posição intermédia entre a menor unidade vicinal ( a OCA) e o agrupamento territotial mais abrangente (a TRIBO). Uma das características mais evidentes das sociedades tupis era a falta de poder dos morubixabas (chefes), bem a não existência de métodos coercivos. A liderança tinha como base apenas a pesuasão, não podendo recorrer à ameaça ou à força. Apenas era reconhecida a autoridade essencial da OCA (unidade familiar). Os "conselhos dos morubixabas" (homens bons?) teriam funções muito diversas, mas difíceis de apreender cabalmente. Sem dúvida tinham poderes de privilégio na escolha das mulheres fecundas, na repartição do espaço para habitação e nos rituais de sacrifício de prisioneiros. As atribuições dos chefes eram muito restritas em tempos de paz, limitando-se a poderes de orientação. Em períodos de guerra ganhavam preponderância, nas funções de direcção e comando.
A instituição básica das sociedades Tupis era o "conselho dos principais" que reflectia a predominância do poder gerontocrático masculino. Eram conselhos ao nível da aldeia. Conhecem-se casos de alianças informais entre aldeias vizinhas, politicamente autónomas. Não há provas de ter havido uma articulação mais abrangente, somente se conhecendo actuações concertadas em tempos de guerra. As teses de que, antes do contacto com os europeus, houve tentativas de organizar "estados emergentes", deparam com a resistência dos "grandes-pajés" (feiticeiros), que tudo fizeram para as inviabilizar. Estudos recentes demonstram, poém, que não haveria antagonismo entre morubixabas e pagés, mas antes uma complementaridade de alcançar o complexo central dessas sociedades: a guerra e a vingança. Veremos isso mais à frente...
(continua)
2 comments:
muito interessante esta investigação sobre as comunidades ameríndias. Uma forma de liderança sem métodos corecivos, sem poder recorrer à ameaça e á força, só à persuasão é extraordinário, tendo em conta que nós, os brancos, os "civilizados", os "superiores", os desprezávamos como selvagens que precisavam de ser convertidos à nossa cultura! Só conhecia os "Tapuias" dos sermões do P. António Vieira...
Obrigada pela informação, gosto sempre de saber mais (e adoro e respeito os índios)
beijinhos
Obrigado pela leitura. Verás que havia perspectivas muito interessantes qt ao canibalismo. Próximos episódios...
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