“Ritmo – Homenagem a Salvador Allende” foi o quadro que Myra enviou para o “Museu da Solidariedade com o Chile”, naqueles conturbados anos em que o Chile parecia ter encontrado uma nova esperança com o Governo Popular. A mostra artística foi inaugurada no dia 17/5/72, tendo por curador Mário Pedrosa e contou com a presença do Presidente Allende. Foram expostos mais de trezentas obras doadas por artistas de todo o mundo. Myra tinha conhecido, dois anos antes, Salvador Allende, em casa de amigos de Miguel (já depois da morte deste). Allende pareceu-lhe um homem simples, inteligente e cheio de sentido de humor. Mais que um político, parecia um professor. Mário Pedrosa foi um dos maiores críticos e historiadores de arte brasileiros, tendo abandonado o país na época da ditadura militar.
Através de um amigo, Myra soube que o seu quadro de 4 x 2 metros, em vez de “correctamente” exposto numa parede, estava no chão como se de um tapete se tratasse. Indignada, escreve para o Museu Chileno, protestando. Em resposta, recebe uma extensa carta de Mário Pedrosa, da qual ressaltamos alguns parágrafos pela relevância que têm. Dizia Mário Pedrosa: “… É verdade que cometemos o crime deliberado de mostrar a tua obra na horizontal e não conforme as tuas prescrições… Das cerca de 600 obras recebidas houve que fazer uma selecção por falta de espaço expositivo. A tua obra interessou-me muito. Era como se fosse um traçado arquitectónico, recordando antigas construções do Yucatán. Não havia espaço bom para ela. Decidi, entâo, colocá-la na horizontal rodeada de outras obras típicas mexicanas… Creio que a experiência resultou bem. A velha ortodoxia de colocar sempre os quadros, obrigatoriamente, na vertical, encostados à parede, pode, por vezes, ser contrariada em função de critérios estéticos e museográficos mais amplos… Espero que esta explicação te possa satisfazer; de contrário pensaria que continuas arreigada a velhos preconceitos académicos da obra intocável, da obra única… Não creio que isso possa acontecer com a jovem artista entusiasta e aberta que conheci em Brasília e mais tarde no México, em 62”.
Myra aprendeu mais esta lição. Foi mais um preconceito que caiu. E Myra vivia para os derrubar. Voltou a ver Mário Pedrosa, no México, em 73, já depois da morte de Allende. O quadro, esse, aguarda prometido restauro no Museu Chileno.
(continua)
7 comments:
jorge,
A MYRA não podia ter arranjado melhor curador da sua obra.
Tenho adorado o conteúdo e a forma da escrita sobre o percurso da Pintora Myra Landau.
Temos OBRA.... PARABÉNS.
UM BEIJO
A vida sempre nos faz abrir pra coisas novas e deixar outrras pra trás.mYRA O FEZ!Lindo!abração,chicA
↓
MYRA LANDAU a frente sempre!
Abraços!
Olá Jorge. Olá Myra,
Obrigada! Amo ler palavras do proprio punho, biografias, auto ou outras, sei lá. O que sei, é que espero esse momento chegar. Uma fantástica e real história escrita em tempo real pelo autor e a protagonista. Simplesmente maravilhoso..é sem dúvida minha leitura predileta nesse momento,testemunhar isso é a melhor parte.
Beijos
Obrigado a todos. Voar Sem Hasas e Selena pelo enorme incentivo.
A obra de myra é soberana!
Um abraço1
CONCORDO. OBRIGADO PELO COMENTÁRIO.
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