MYRA LANDAU - XXI

O que é técnica? Nada e tudo. Algo que tu desenvolves. Algo que é só teu. Não há regras. Não há lógica. Há uma tela, pincéis, mãos, tintas…. Usa como quiseres. Faz o que te apetecer. Fica à vontade. Não tenhas medo. Um dia sentes que tu e a tela são o mesmo corpo. E quando pintas a tua alma apodera-se do quadro. Quando sentires que o quadro és tu, então descobriste a tua técnica. E nunca mais poderás ter outra…

Myra pinta em linho cru. Myra pinta com pastel. Não há emendas, não há correcções. Há uma pintura directa. Imediata. Intuitiva. Irrepetível. Não prepara a tela. Ela é crua. Limpa. Faz lembrar a areia do mar de Veracruz. Esse mar que Myra deixou com saudade. Myra depurou a sua forma de pintar. Não recorre a subterfúgios. Repudia técnicas complicadas. Pinta o sentimento. A sensação. Pinta a intuição. As linhas cruzam-se na sua mente. Batem um ritmo forte. Um ritmo negro. Um ritmo que está no samba que veio de África. Um ritmo que viaja nas linhas que convergem e divergem. Nas linhas que se unem e separam. As “linhas-viagem”. Linhas rectas imaginárias que a levam ao infinito. As linhas que sabem onde vão parar. Myra nunca saberá onde vai chegar. Às vezes sonha com um quadro. Ao despertar tem a impressão que já o fez. As cores vão saindo. O equilíbrio... A harmonia já estão em algum lugar na sua cabeça. Pega na tela. Uma sombra fugaz que cai sobre o branco. Um reflexo de cor vindo do nada. Uma linha começa a tocar a tela. Surge um rumo. Surge um ritmo. Myra segue. A vida pára à sua volta. Fica em transe. E a tela perde o medo de ser quadro. Myra conquistou outro aliado. Surge uma obra-prima.

Na imagem: Ritmo Positivo-Negativo

(continua)