11.4.11

A MARÉ

No Algarve estamos no estrangeiro. Falta-nos a pronúncia árabe das gentes locais. Uma pronúncia fechada e cantada. Fechada como as amêijoas. Só depois de bem abertos os algarvios tem sabor. E então é uma profusão de odores. Coentros, alho, alfarroba, azeite, orégãos… Quem nunca comeu batatas “malcriadas” nunca entenderá esta gente. Lagos é terra de vento. Muito vento. Um vento que nos empurrou pelo Atlântico. Descobrimos os Descobrimentos. E os Descobrimentos descobriram-nos a nós. Somos filhos do mar. Vítimas da maré. Náufragos da história. Um azar que não cessa de nos perseguir. Ficámos aqui a vender escravos. Vendemos até o mercado fechar. Vendemos até à exaustão. Foi preciso a estúpida abolição para nos lixar o negócio. Por mais que a Europa queira, nunca tivemos jeito para trabalhar. Nem sequer sabemos. Temos um ego invertido. Achamo-nos o máximo. Mas temos vergonha de o dizer. A verdade é que somos mesmo o máximo. Mas se formos o mínimo também não interessa nada. Todas as sondagens. Todos os inquéritos falham. Ninguém entende que um país de falhados, se ache falhado e, no entanto, se esteja borrifando, embora ele próprio ache que não se devia estar borrifando… mas, tanto faz. No Algarve trabalha-se com o Sol. Um astro difícil de dominar. Um astro difícil de gerir. As amêijoas abrem-se com o calor. Um calor que vem dos afectos. No Algarve navega-se à bolina. O vento sopra de todos os quadrantes. Aprendemos os pontos cardiais. Aprendemos a ser filhos do Sol. Aprendemos a ser filhos do Sul. E tanto faz… É a maré.
ET: dedicado à Mena que faz anos daqui a dez minutos.

18 comments:

João Menéres said...

Está tão parecido com um político da nossa praça, que eu não corria o risco de ser confundido com tal área profissional...

Lizete Vicari said...

Oi Jorge!
Adorei o texto, gosto da maneira que tu escreves!
Ah, ficaste muito bem de barba!
Saudades meu amigo!
Um beijo da Praia do Rosa!

Mena G said...

Obrigada, Jorge.
Está Levante por aqui. E acabei de fazer uma tarte de alfarroba.
:) Era só mais um dia...

myra said...

como voce escreve bem...o sol, o sol, aqui tem um vento frio e fotissimo, e um sol fraco, mas tudo isto ja sabemos, e sabe? voce fica muito mais bacana de barba, adorei!
beijossssssssssssss

Anonymous said...

Jorge, estas a escrever sobre NENHURES ou PORTUGAL????

Jorge Pinheiro said...

JOÂO: A IDEIA NÃO FOI ESSA.

Jorge Pinheiro said...

LIZETE: OBRIGADO. JÁ ESTOU COM SAUDADES DAÍ. BEIJOS.

Jorge Pinheiro said...
This comment has been removed by the author.
Jorge Pinheiro said...

MYRA: HÁ UM SOL DENTRO DE NÓS.

Jorge Pinheiro said...

mENA: TEVE QUE SER. OBRIGAÇÕES POR CÁ. O TEMPO JÁ ESTAVA A VIRAR ONTEM. POR ISSO ESTEVE TÃO BOM. BONS FESTEJOS E MUITOS BEIJOS DE PARABÉNS.

Jorge Pinheiro said...

EDUARDO: E NÃO É A MESMA COISA?

xunandinha said...

Pois é tenho pena mas eu também faço anos hoje, se calhar faço mais que a Mena.
Parabéns para ela, beijinhos

Jorge Pinheiro said...

Xunandinha: nunca se deve ter pena de fazer anos. Mais vale fazê-los do que não os fazer. Um beijo de parabéns.

João Menéres said...

JORGE

Então, tudo bem.

Jorge Pinheiro said...

Sem dúvida. Quase tudo...

Helena Oneto said...

Ó doctor, o Senhor tem razão!

Jorge Pinheiro said...

Helena: de vez em qd acerto, mais ou menos, mas tanto faz...

Fátima Santos said...

preferia só o texto, mas são gostos...