Foi no decorrer do século XVIII, durante o reinado de D. João V, que a corrente emigratória para o Brasil
se tornou mais intensa. No século XVII houve um
grande declínio na economia, com uma acentuada quebra na produção do trigo, da
cana do açúcar e do vinho. Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram os locais preferidos pelos
imigrantes açorianos. Constituíram-se nessas regiões
grandes colónias de açorianos, cuja linguagem e maneira de falar típica
influenciaram o português do Brasil. Ao contrário do que durante muito tempo se
pensou, não foi a língua brasileira que exerceu influência sobre alguns sons da
língua portuguesa, dando origem ao que vulgarmente se chama “brasileirismos”.
Foi o português falado nos Açores que exerceu influência, sobretudo nas regiões
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul onde a presença açoriana foi um facto
entre 1617 e 1807. Assim, a palavra “ sinhá”
(senhora) talvez tivesse origem em “senhara”, ainda hoje ouvida em várias
localidades da ilha de S. Miguel, sobretudo entre as pessoas mais humildes. A
troca do “lh” por “i” como em “muié” (mulher), “óia” (olha), “fôia” (folha),
“mio” (milho), “taião” (talhão) muito vulgar na língua brasileira de certas
regiões (Santa Catarina e Rio Grande do Sul) foi também influência exercida
pelos emigrantes provindos dos Açores, aí radicados. O t que os brasileiros pronunciam th,
como em quintha, é também vulgar em certas regiões de S. Miguel:
ditho, vinthá (vinde cá). É muito natural que o emprego do gerúndio:
estou comendo, estou fazendo, estou trabalhando, etc., tão comum na
língua brasileira, fosse também influência dos açorianos radicados no Brasil. De
facto, ainda hoje, a conjugação perifrástica no gerúndio é vulgaríssima nos
Açores, onde as formas verbais estou a correr, estou a fazer, etc., não
se ouvem ou raramente se ouvem.
Fotografia de João Pinheiro
4 comments:
muito interessante, Jorge, gosto muito de investigar a origem linguística das palavras e nunca imeginei que o dialecto açoriano tivesse tido tanta influência no português falado no Brasil!
beijo
Pai bom de texto e filho de foto!!!
Obrigado Graça. Também eu aprendo.
Eduardo: obrigado pelas palavras. Muitos açoreanos lá por Santa Catarina...
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