7.9.11

AÇORES - EMIGRAÇÃO

Foi no decorrer do século XVIII, durante o reinado de D. João V, que a corrente emigratória para o Brasil se tornou mais intensa. No século XVII houve um grande declínio na economia, com uma acentuada quebra na produção do trigo, da cana do açúcar e do vinho. Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram os locais preferidos pelos imigrantes açorianos. Constituíram-se nessas regiões grandes colónias de açorianos, cuja linguagem e maneira de falar típica influenciaram o português do Brasil. Ao contrário do que durante muito tempo se pensou, não foi a língua brasileira que exerceu influência sobre alguns sons da língua portuguesa, dando origem ao que vulgarmente se chama “brasileirismos”. Foi o português falado nos Açores que exerceu influência, sobretudo nas regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul onde a presença açoriana foi um facto entre 1617 e 1807. Assim, a palavra “ sinhá” (senhora) talvez tivesse origem em “senhara”, ainda hoje ouvida em várias localidades da ilha de S. Miguel, sobretudo entre as pessoas mais humildes. A troca do “lh” por “i” como em “muié” (mulher), “óia” (olha), “fôia” (folha), “mio” (milho), “taião” (talhão) muito vulgar na língua brasileira de certas regiões (Santa Catarina e Rio Grande do Sul) foi também influência exercida pelos emigrantes provindos dos Açores, aí radicados. O t que os brasileiros pronunciam th, como em quintha, é também vulgar em certas regiões de S. Miguel: ditho, vinthá (vinde cá). É muito natural que o emprego do gerúndio: estou comendo, estou fazendo, estou trabalhando, etc., tão comum na língua brasileira, fosse também influência dos açorianos radicados no Brasil. De facto, ainda hoje, a conjugação perifrástica no gerúndio é vulgaríssima nos Açores, onde as formas verbais estou a correr, estou a fazer, etc., não se ouvem ou raramente se ouvem.
Fotografia de João Pinheiro

4 comments:

daga said...

muito interessante, Jorge, gosto muito de investigar a origem linguística das palavras e nunca imeginei que o dialecto açoriano tivesse tido tanta influência no português falado no Brasil!
beijo

Anonymous said...

Pai bom de texto e filho de foto!!!

Jorge Pinheiro said...

Obrigado Graça. Também eu aprendo.

Jorge Pinheiro said...

Eduardo: obrigado pelas palavras. Muitos açoreanos lá por Santa Catarina...