30.10.11

GLOBALIZAÇÃO - ERRO ESTRATÉGICO?


O GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Preços) prolongou-se de 1947 a 1993. Deu origem à Organização Mundial de Comércio (WTO). A globalização começou aqui. Foram 50 anos de negociações para desmantelar proteccionismos e abrir mercados fechados. Foram 50 anos para revolucionar o mundo e criar um mercado tendencialmente igualitário. Um objectivo democrático e aparentemente justo. Passadas menos de duas décadas o “mundo ocidental” (leia-se, Europa e USA) encara a globalização como o começo do fim. Que se passou então? De facto, o “Ocidente” desindustrializou-se fortemente. Prescindiu da sua estrutura produtiva. A mão-de-obra é cara. As garantias sociais incomportáveis. Continuamos a depender excessivamente do petróleo que não produzimos. O “Ocidente” passou a comprar cada vez mais produtos manufacturados na Ásia. Produzimos serviços de duvidosa utilidade e sem interesse, do ponto de vista da exportação. Trabalhamos para pagar aos outros países. A globalização que era suposto beneficiar os países “avançados”, acabou por beneficiar os países emergentes, em geral, e os BRIC, em particular. O “Ocidente” foi ingénuo e arrogante. Provavelmente estava convencido que a China iria continuar a produzir T-Shirts e o Brasil a exportar papaias. Houve uma subavaliação da China e da Índia e do mercado asiático em geral. O “Ocidente” pensava que ia dominar a globalização. Puro engano. A enorme dimensão interna daqueles mercados, associado à cultura milenar, ao dinamismo e à capacidade de imitação e inovação, não foi devidamente ponderada pelo “Ocidente”. Mandam as regras económicas mais prudenciais que os grandes países tenham economias fechadas, protegidas por uma pauta aduaneira desincentivadora das importações. Já as economias pequenas devem ser abertas, permitindo exportações que lhes aumentem o mercado e garantam um saldo positivo na balança de pagamentos. Os acordos do GATT ao alterarem abruptamente as regras, baralharam os mercados e destruíram o equilíbrio económico vigente. O “Ocidente” deu um tiro no pé. Sem dúvida que, para quem delineou a estratégia ocidental, este foi um erro colossal. Mas pergunta-se: não deveria ser esse o desiderato último da globalização? Acabar com a hegemonia “ocidental”? Entrar em novo ciclo? Um ciclo mais justo e equilibrado?... Resta ao “Ocidente” voltar a trabalhar!

6 comments:

peri s.c. said...

Mas os BRIC continuam com suas desigualdades sociais à todo vapor. Aqui no B mascaradas pelas " Bolsas Famílias " e financiamentos de bens de consumos em prestações a perder de vista mas com os juros mais altos e acintosos do mundo.

Anonymous said...

Jorge,

a resposta que a Europa prepara , esta no Cabeçalho Rotativo de hoje no Varal, copiado do FB da nossa amiga Bé, e pichado no Cais do Sodré :


SACRIFICIOS
O CARALHO

Jorge Pinheiro said...

Mauro: é pena que o caminho seja sempre o mesmo.

Jorge Pinheiro said...

Eduardo: uma hipótese muito saudável.

daga said...

Estás tão "economista" que primeiro nem li isto direito... falta lirismo ;) mas quando vi que aparecia outra vez no outro blog, então li e realmente não se tratou de uma "globalização", mas de uma "ocidentalização" e agora sofremos as consequências do tal "tiro no pé"...
beijo

Jorge Pinheiro said...

Graça: tb me achei muito economista. Mas sabes, eu até participei nalgumas reuniões do GATT!!!