11.2.12

DIA A DIA - GERAÇÕES

A cultura é uma sedimentação geracional. Feita de estratificações sucessivas ao longo de milénios. O Estado, a Sociedade, o Mundo, tal com os conhecemos hoje, são fruto de avanços e recuos. De sucessos e crises. De paz e de guerra. Quando nascemos herdamos um "acquis". Algo que a geração anterior nos passa. Algo que temos obrigação de questionar e de melhorar. A certa altura da vida acomodamo-nos. Consolidamos o adquirido. Entramos numa espécie de "mainstream" social. Calçamos as pantufas. Podemos (e devemos) continuar a ser intelectualmente críticos e socialmente curiosos. Mas já não somos nós que vamos mudar nada. Limitamo-nos a gerir o passado. Cabe às novas gerações esse papel de mudança, como já coube à nossa. Uma mudança que pode ser uma continuidade ou uma disrupção. E qualquer paralelismo com o Maio de 68, o 25 de Abril ou a queda do Muro não colhem. As novas gerações têm de escolher o seu próprio caminho. As comparações são armadilhas da memória. O que é diferente nos dias de hoje é que as pessoas duram muito mais e arrastam consigo esse "acquis". Ocupam cargos de gestão "ad infinitum". Perpetuam-se na política. Tiranizam a cultura. Os filhos do "baby boom" que nós fomos questionavam tudo. Queriamos mudar o mundo. Agora não saimos de cima. As novas gerações têm um problema: nós. 

24 comments:

Maria de Fátima said...

esta frase, Jorge, eu fazia-a epitáfio: assim, escrito na pedra do lugar onde cada um de nós será um dia morto.
a cada um que fosse aplicava a dose até não restar mais um que fizesse estorvo...

myra said...

"Queriamos mudar o mundo. Agora não saimos de cima. As novas gerações têm um problema: nós."

sim, è assim...
voce escreve tao bem, ou serà que voce expressa o que a maioria dos mais velhos pensam?

Luísa said...

Posso entrar?
Eu não penso bem assim!
Aqueles a quem chama problema dos mais novos, dominam as falésias da vida e podem instruir os mais novos para que não se espatifem nas escarpas encontradas.
Lições geracionais. Cabe-nos a nós perceber até que ponto essa sabedoria pode advertir em vez de empurrar.E na decisão aprende-se a vida!


Beijinhos, e muito obrigada por me ter aberto a porta!Continuo a aprender!

Anonymous said...

Nós não somos problema para ninguém, a não ser para nós mesmos, com os reumatismos e os medos com a proximidade do fim da viagem. As novas gerações o que têm feito? Nada. Nadinha. Nós tínhamos o sonho e a esperança de modificar o que ia mal no mundo. Estas gerações de agora já nascem sem sonhos. Sem esperança. Interessa-lhes qualquer Big Brother, uma cerveja na mão, um silicone nas tetas. Acatam ordens e não se rebelam. Trocando em miúdos: são uns miúdos tótos, sem personalidade nem espírito de luta.
Bom dia a todos.

João Menéres said...

Não quero perturbar a fluidez das opiniões até aqui expressas.
Logo à noite, talvez apareça por cá.
Mas,o ANONYMOUS que me antecedeu, expressa muito do que penso.

daga said...

Se eles não têm sonhos, fomos nós que não os soubemos transmitir; se não têm esperança, fomos nós que a matámos; se não têm personalidade, fomos nós que não fornecemos o modelo!
Portanto palmas para a tua última frase!

Jorge Pinheiro said...

MAS ELES TÊM SONHOS. NÓS TEMOS A MANIA DE VOLTAR ATRÁS E FAZER TUDO À NOSSA IMAGEM. AS COISAS NÃO SE REPETEM. PROVAVELMENTE O NOVO MAIO DE 68 JÁ ESTÁ ON-GOING E A GENTE NÃO SABE. POR ISSO DISCORDO EM ABSOLUTO DO ANÓNIMO.

byTONHO said...



O caminho é... Gerar AÇÕES!

"Quero mudar o mundo até o final da minha EXISTÊNCIA!"

"Sessentei" mas não sentei...

Persistência X Resistência

Acumulamos EXPERIÊNCIAS.

"De 'esperança' não falo, por que isto é o sinônimo de 'acomodar', esperar... até não alcançar."

Abraços JOVENS!

:o)

João Menéres said...

E o preço do petróleo não terá culpas no cartório ?
E as máfias das armas e da droga ?
E o que se passa nas novas repúblicas de África ?

Agora, Jorge, cabe-me discordar de parte do seu ponto de vista.

Um abraço.

Jorge Pinheiro said...

Tonho: eu tb quero mudar. O ponto que eu defendo é que já não conseguimos. Esse é (e deve ser) um trabalho das novas gerações. Pensar o contrário é uma ilusão.

Jorge Pinheiro said...

João: claro. Mas isso faz parte da conjuntura que nos rodeia. Estou a falar em mudar. Não em atribuir culpas. E estou a falar em mudar de uma forma´geracional, tal como nós mudámos a sociedade, agora é a vez de outras gerações.

byTONHO said...



"MUDE,
não fiques MUDO
ou... mude-se!"

:o)

Li Ferreira Nhan said...

Texto lúcido e impecável Jorge.
Compartilho cada palavra dele.
E também ao que a Daga escreveu. Assino embaixo.

Anonymous said...

e a nós, quem nos ensinou? quem nos transmitiu fosse o que fosse? ninguém. quem tem vontade de fazer, FAZ. o que nós fizémos era visto, pelas gerações anteriores como "loucuras" e mesmo assim fomos à luta. ninguém pode matar a esperança de ninguém: nasce-se com ela, ou sem ela. a juventude de hoje teve e tem tudo de mão beijada. nós não. e por esse não-ter talvez lhes tivessemos facilitado muito a vida, nao os deixando caminhar com os pp. pés. nós éramos mais alma, mais acção, mais pensamento e vontade. os de hoje só têm corpo. que venham muitos ginásios, muitas tatoos, muitos músculos; corpos muito durinhos, bem definidos e cabeças ocas sem definição ...

obviamente que existem excepções ...

morreu o romantismo que norteou a nossa geração, isso sim ...

Jorge Pinheiro said...

Isso sem dúvida. Como refiro no texto, um dos problemas da nossa geração é tentar comparar com as actuais. Qt a mim um erro. Cada geração tem de descobrir a sua forma de mudar as coisas.

Li Ferreira Nhan said...

Acredito que o nosso erro
(das gerações anteriores tb? Não sei...)
é confrontar uma com outra para lhe determinar as diferenças, apontar os erros e o pior; julgar.
A juventude de hoje me inspira cuidado, compaixão.
Não consigo vislumbrar a ela o que eu acreditei quando jovem; um futuro.

Anonymous said...

Este assunto, como é usual dizer-se, dá pano para mangas. Eu acrescentaria que dá até para o sobretudo. Sobretudo porque não há que se fazer comparações. Cada um no seu poleiro e cada um tem aquele que merece. Há os altos, os menos altos e os baixinhos, quase rente ao chão.
Se fosse para enaltecer algum feito de importância traria aqui a Primavera Árabe. Sim, foi uma primavera de juventude e de "basta!". O resto, como já disse, pouca ou nenhuma relevância tem. Falta à juventude de hoje ideias. Quiçá ideais ... Em vez de "chacoalhar" os corpos, "chacoalhassem" as mentes ...

angela said...

Muito bom.
Gostei e nada tenho a acrescentar a não ser desejar que eles nos atropelem.
beijos

Luísa said...

Nascem sem sonhos?
Eu tenho uma filha, de 9 anos, que diz que vai ser a "Luísa Vaz de Camões" deste século, pois contar os feitos das conquistas mundo fora....das descobridoras! diz mais, já tem matéria pois as invetigadoras portuguesas estão na vanguarda das descobertas.
Diz a pequena, que serão outos cantos contados...


Beijinhos mil, de uma mulher que acredita nos valores em que foi criada, que os transmite a quem educa e que vê reflexo disso, todos os dias!

Vale muito a pena! Bjnhs

Jorge Pinheiro said...

Luísa: não tenho dúvidas disso. Acho que a juventude de hoje tem imensos ideais e sonhos. E como sempre, o "establishement" está aqui para atrapalhar. É a luta de gerações. Mas também há que reconhecer, como aqui já foi dito, que, embora haja muitos motivos para lutar, não se vê grande organização. Penso que num mundo globalizado e de redes sociais, algo mais se deveria passar. Será que, como refere, o Anónimo/a falta chacoalhar?

João Menéres said...

Os últimos comentários estão mais conciliadores.
Isso já me agrada.
Cada geração ( cada dezena ou vintena de anos ) terá os seus objectivos, os seus ideais.
E não é fácil a outras gerações que a antecedeu compreender EXACTAMENTE quais os seus desígnios.
Tudo se altera a uma velocidade que temos dificuldade em acompanhar.
E a cada ano que passa, essa velocidade aumenta de forma exponencial.
Até parece a inovação a cada ano que passa das modernas ( ? ) tecnologias !

Sabem o que eu receio ?
- É que depoisde um ACORDO muito pouco cordato, sejamos invadidos por capitais não europeus !

Jorge Pinheiro said...

João: tem alguma dúvida que vamos ser uma espécie de Singapura da Europa? E olhe que é um futuro risonho. A Grécia não terá essa sorte.

Luísa said...

O mundo está selvático! Todos vivem tudo intensamente! Mas vivem tão intensamente que se esquecem de saborear as coisas! E isso sim assusta!
Obrigada pela tertulia!Foi altamente produtiva pela diversidade de opiniões!
Beijinhos e bom domingo!

Jorge Pinheiro said...

Bom Domingo também.