16.4.12

25 DE ABRIL - VI

 Os tanques tinham um ar gigantesco nas ruas da Baixa de Lisboa. Ninguém percebia bem o que se passava. “O que queriam eles?”. Retrospectivamente falou-se da “revolução popular”. Mas, no dia 25 de Abril não foi o povo que determinou os acontecimentos, mas o fracasso do regime. No primeiro momento Spínola apareceu ao leme. Presidente de uma Junta de Salvação Nacional, feita exclusivamente de militares. Acabara o Estado Novo. Liberdade. Partidos políticos. Mário Soares. Álvaro Cunhal. Sá Carneiro. Mas, a verdade é que os generais comandavam. Logo em Maio de 1974, 42 dos 85 oficiais-generais passam à reserva. A hierarquia militar fica na mão de Spínola. Em breve seria ultrapassado pelos acontecimentos. Greves, manifestações, agitação permanente. A extrema-esquerda toma conta das ruas. Golpes. Contra-golpes. Tentativas “bonapartistas”. Spínola perde terreno. O Movimento das Forças Armadas ressurge pela mão de Vasco Gonçalves e Melo Antunes. A necessidade de acabar com a guerra de África é uma prioridade. A descolonização foi uma trapalhada. Uma entrega. Uma demissão. Ausência de estratégia. Falta de comando político. Ninguém sabia o que queria. Todos queriam voltar a página. As colónias foram entregues ao desbarato. Os Movimentos de Libertação tomaram posse dos territórios. Com excepção de Cabo Verde, não houve eleições. A debandada dos colonos começou de imediato. No Verão de 1975 montou-se a maior operação de evacuação da História. Meio milhão de portugueses residentes no Ultramar, regressou a Portugal. Muitos “retornados” vieram em situação precária. Verdadeiros refugiados dentro do seu próprio país. A sua integração, porém, correu melhor do que o previsto. Das colónias restou Macau, que a China não quis receber imediatamente, e Timor, entretanto ocupada pela Indonésia. Uma causa diplomática que só se resolveria em 2002, com a independência.

5 comments:

Li Ferreira Nhan said...

Retornados sem quase nada.
Deixaram tudo o que construiram por lá...

Fatyly said...

Tenho estado a acompanhar estes teus relatos a que tiro o meu chapéu...e este tocou-me muito porque só quem passou por isso!
"A sua integração, porém, correu melhor do que o previsto"

Foi essa demanda que se fez à luta (nunca recebi qualquer ajuda do Estado até hoje) e ergueram Portugal quer em termos de economia, quer em termos de sei lá mais o quê?

Este país não é meu, jamais, mas agradeço porque me acolheu e mais uma vez e infelizmente voltámos ao passado tudo porque uns determinados "doutores da tanga que se intitulam governantes" se julgarem os maiores e delapidaram tudo sempre em proveito próprio!

A quem a atribuir a "Medalha de Mérito da Pouca vergonha"? Sabes que tenho dois preferidos, pais de toda esta cebolada em que estamos metidos.

Apesar dos pesares...25 de Abril SEMPRE e não me refiro ao feriado, que para mim os feriados de...não me dizem nada e são uma máquina de "bem parecer com direito a coroas de flores aos que tombaram, de louvores e sermões que me dão vómitos", numa passerele de vedetas hipócritas e aparvalhadas ou de meninos de coro e betinhos!!!!

Jorge Pinheiro said...

Esta é uma zona que nunca será pacífica porque mexe com a vida das pessoas e a sua deslocalização forçada. Podia ter sido pior, mas podeia ter sido muito melhor se o governo Salazar/Marcelo tivesse actuado a tempo. Ficámos orgulhosamente sós.

João Menéres said...

Desses tempos, divertia-me à brava quando o Vasco Gonçalves falava na RTP !
Tirava o som completamente e ficava com um LOUCO a esbracejar !!!

Quantos não fizeram como eu ?

Jorge Pinheiro said...

Confesso que já nem me lembro bem do homem. Mas a ideia que tenho era que ninguém o levava a sério. Nem o PCP!