25.4.12

AONDE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL?


Não me lembro de quase nada. Estava sozinho em casa. Tenho ideia que estava numa crise matrimonial do meu primeiro casamento. O meu pai estava em Bruxelas numa reunião da NATO. A minha mãe tinha ido com ele. Levantei-me cedo, pelo meio-dia, e soube que tinha havido golpe de estado ao som de "Grândola Vila Morena". Estava de ressaca e ainda fiquei com mais dor de cabeça sem conseguir atingir a profundidade da coisa, perdido em aspirinas de ocasião. Fui ouvindo notícias surrealistas: povo na rua; cravos nas espingardas; calças à boca de sino penduradas no Largo do Carmo; tanques em cada esquina; ministros em fuga desesperada; o Império definitivamente a decair... Não me apeteceu nada ir para o meio do povo. À noite, na televisão, apareceu um bando de generais com ar absolutamente sinistro: a Junta de Salvação Nacional... Naquele ano de 1974 acabei o curso de Direito. Escapei ao MRPP e também não fui à tropa. Passei directamente à reserva territorial de onde, aliás, nunca tinha saído.

Quem quiser pode aqui deixar os seus testemunhos. Serão publicados amanhã. Interrompemos as Crónicas do Hospital devido à solenidade do dia.

24 comments:

Fatyly said...

Não estava em Portugal, nasci e cresci em Luanda. Já no meio de uma guerra civil, com recolher obrigatório ainda trabalhava, ir e vir era uma aventura e na hora do almoço, (numa pequena cantina perto, que ainda servia refeições, comemos arroz de cabidela) soubemos "entre-dentes, não fosse a PIDE estar por perto" que tinha havido golpe de estado na metrópole. Imagens zero e à noite ligamos a rádio clandestina e ficámos a saber um pouco mais.
Cada dia após, começou tudo a piorar, eram mais os dias que não podíamos ir trabalhar devido ao tiroteio nas ruas, intensificou-se o "martelar de pregos em caixotes de quem trouxe alguma coisa via marítima", o dia-a-dia passou a ser "sobrevive, sobrevive" no meio do caos nasceu a minha filha a 4 de Abril de 75 e saí em Novembro. Fome, muita fome...e fico-me por aqui!

Para mim houve um grande militar de Abril: Salgueiro Maia...e não me falem de Otelo e um bem pior Rosa Coutinho... nem no Mário Soares no após...

Já fora das garras da ditadura e sobretudo da "matança" da PIDE... havia que olhar em frente e lutar por uma vida melhor!

Hoje ao olhar certas fotos com os cravos, apetecia-me enfiar um molho de cardos nuns quantos indivíduos que destruíram + outros que continuam a destruir tudo, gamaram o que não deviam, meteram-nos numa panela de pressão marca UE, cujo pipo (euro) é o que todos e estamos a sentir na pele!

Hoje, a maioria dos meninos(as) que estão no Estado (de uma direita absurda, dura e estupidificante), têm um canudo de escolaridade (alguns vindos sabe-se lá de onde) nunca souberam o que é trabalhar, ter fome, desespero pela falta de emprego, sofrer assaltos e criminalidade de todo o género e aos poucos o barco afunda, julgando-se imunes a tudo...mas todos pagarão pelos erros, disso não tenho dúvidas alguma!

Apesar dos pesares...25 de Abril SEMPRE, mas hoje deveria ocorrer outro liderado por um povo novamente oprimido e em filas de espera para terem algo para comer!

Fatyly said...

Como em tudo há EXCEPÇÕES, porque a dignidade, honestidade, educação, solidariedade...não se compra na política...vem do berço!!!!!!

Luísa said...

tinha 2 anos e meio, 4 irmãos e um pai a trabalhar para o agregado familiar.
A versão que tenho do 25 de abril é a que a Fatyly nos trouxe. A visão do cravo é prevertida por aqueles que usaram e usaram-se do poder encostados à politica. Um caso de liberdade transformado em libertinagem sem valores nem princípios.
Era tão pequenita no 25 de abril...mas sou tão grande no meio das injustiças que daí vieram!
Muitos militares de abril devem estar espantados com as voltas que tudo isto deu!!!

byTONHO said...
This comment has been removed by the author.
byTONHO said...



MIL...itares?
Odeio-os!
Eles são OBRA de SATÃ?!

Só fazem MAL para as "pátrias"!

Eles são antiARTE... "Mili.ART ←!"

Muito TRISTE!

:(

xunandinha said...

Tinha 14 anos os meus pais trabalhavam de noite e eu como sempre liguei a telefonia, achei que o programa do costume não estava a dar ,ouvi o aviso do posto de comando "a pedir à população para manter a calma e ficar em casa" achei esquisito e pensei há isto não é cá e saí para a escola,ainda começou a primeira aula mas a meio mandaram-nos para casa,só mais tarde o meu papá contou o que se estava a passar, beijinhos

myra said...

odeio tudo qto é militar de qualquer pais!!!!

Jorge Pinheiro said...

Myra e Tonho: como sabem aqui foram os militares que libertaram o país da famosa ditadura do Salazar. Embora estes senhores tenham ar sinistro, na época eles restauraram a democracia. Fomos uma excepção, como sempre!

Silvares said...

Eu tinha 11 anos e estudava na Escola Preparatória Doutor Oliveira Salazar, em Viseu. Não compreendi bem o que se passava. Em minha casa, na minha família, havia quem estivesse feliz, quem estivesse triste, quem não estivesse nada. Eu fiquei assim-assim pois a escola fechou e, quando voltei, as letras de ferro cravadas na parede com o nome do Doutor haviam sido arrancadas. A partir daí (re)comecei a crescer.

Maria de Fátima said...

tava na caminha
a minha companheira de quarto (uma MRPP convicta) acordou-me: um golpe de estadao, e eu de direita ou de esquerda? muito atinadinha já: Faculdade de Ciências com a cantina fechada pelos pides faz a cbecinha mesmo das meninas do papá, e depois foi a a manhã em casa que a minha companheira tinha a mãe alentejana de visita e ela a dona da casa rezavam para que não saíssemos pregados em frentes da televisão que de pronto respondeu á questão que eu tinha colocado...
pelas duas da tarde fomos para a rua, eu e a Nita a contariar os rogos lá em casa para que não saíssemos: fomos avenida de roma praça de londres, arco do cego: não nos deixaram passar, ou aconselharam-nos, sei que compramos um jornal, não sei qual e ainda hoje tenho pena de não ter estado no largo do carmo estando em lisboa

byTONHO said...



Jorge:

Então foi aí que surgiu a expressão:

"Há MALES que vem para bens?!"

...

Aqui foi o contrário,
"os MALAS (militares chatos) amordaçaram-nos por muitos anos!"

Há alguns defensores desta prática,
acham que com ELES tem-se mais moralidade, menos VIOLÊNCIA (olha o paradoxo)...

O Rio de Janeiro (sede dos MEGA eventos onde poucos lucrarão) está sendo "PACIFICADO" por "MILICOS", estão expulsando o TRÁFICO pra bem longe do CENÁRIO da grande festa da
FIFA, GOVERNO, TV GLOBO e rede hoteleira... tráfico este que se espalha por "outras áreas" do PAÍS!

Pura DEMAGOGIA DEMOCRÁTICA!

Abraços!

:o)

Jorge Pinheiro said...

Tonho: aqui o filme do 25 de Abril foi bem outro. Não se esqueça que foi abaixo um regime velho de 48 anos e não houve derramamento de sangue. Só cravos. Isso não impede que eu tb desconfie das armas e dos golpes militares. Mas por aqui, não temos essa razão de queixa. Antes pelo contrário.

Mena G said...

Lembro-me de estar na paragem de autocarro a caminho do Liceu de Portimão. Da 1ª aula do dia: Matemática e o professor numa pilha de nervos. Lembro-me que já não tive Francês. Lembro-me dos jardins desertos e de um rapaz solitário caminhar lentamente até ao recreio das meninas. Depois misturamo-nos todos, na certeza de que já não era proibido. O meu 1º acto de liberdade talvez tenha sido despir a bata branca. Tinha acabado de fazer 15. Na total anarquia dos 2 anos seguintes quase não fui a uma aula. Mas devorava livros.Todos os que até ali me tinham sido proibidos. Imagine-se que não se podia ler Jorge Amado!!!
Mais tarde, "Gabriela Cravo e Canela" seria a 1ª telenovela a passar na TV portuguesa. :)

Anonymous said...

Vamos lá. A primeira pessoa que comentou distorceu a verdade. No dia 25 de abril de 74, em Luanda, não havia guerra civil. Havia a guerrilha na mata, como já acontecia há mais de uma década, mas Luanda vivia em paz. Guerra civil, recolher obrigatório e tudo o mais que a uma guerra civil é inerente, veio depois. Nesse dia glorioso rejubilei. Não só pelos angolanos como também pelos portugueses. Estariam livres de uma ditadura severa e de uma guerra que não era deles. Por nós, angolanos, tudo estava por vir ... Passou o tempo e no cano das armas não houve cravos vermelhos. Houve fogo. Todo esse processo trouxe-nos mais guerra, mais fome, mais dúvidas, mais incertezas quanto ao futuro. Também mais sonhos e mais esperança. Para mim, particularmente, trouxe-me o peso de um exílio que carrego há mais de 30. Ainda assim, tenho o dia 11 de novembro de 75, em Luanda, como um dos dias mais felizes de minha vida. Jamais culparei Portugal por tudo o que de mau aconteceu, muito menos seu povo. Ardam nos infernos, esses sim, os seus indignos e tiranos governantes. 25 de abril, sempre. Minha gratidão eterna aos Capitães de Abril. Quanto a Angola, ainda está sendo escrita o resto dessa História. Mas valeu. E muito!

Fatyly said...

Anónimo
"No dia 25 de abril de 74, em Luanda, não havia guerra civil. Havia a guerrilha na mata, como já acontecia há mais de uma década"
..............
desculpa mas havia sim, mal anoitecia começava o tiroteio, Luanda dividida em territórios - MPLA /FNLA/ UNITA e sobretudo nos arredores como o Bairro onde eu vivia, ao lado do Cine África, e outros e o recolher obrigatório é sinal de quê? O fechar constante de lojas etc, etc. devido aos saques era o quê?

Este pormenor é um dos muitos que os relatos da história não dizem a verdade e eu estava lá e senti na pele!

Anonymous said...

Olá Faty, é só pensar um pouquinho. Antes do 25 de abril esses movimentos estavam na mata. Entraram em Luanda após a caída do governo português, i.é., após o 25 de abril. É certo que havia células clandestinas de cada um deles em Luanda mas se se pusessem a guerrear seriam logo abatidos pelo exército português, então dono da situação. Depois do 25 de abril, sim, o que relata é verdadeiro. Se os portugueses foram apanhados de surpresa, imagine só nós, em Angola. Atribuo a sua falha provavelmente ao tempo. Já se passaram muitos anos e a memória às vezes é traidora ... Boa noite.

Fatyly said...

Já agora e respeitando o que dizes e sem saber se estavas lá como civil ou militar lê este artigo:

http://amateriadotempo.blogspot.pt/2012/04/o-25-de-abril-em-angola.html

eu não fazia a mínima ideia quem eram esses tais brancos, só sei que no meu bairro bem massacrado vivíamos paredes meios com brancos, pretos e mulatos.

Também li um livro "o último ano em Luanda de Tiago Rebelo" cuja sinopse é esta, sucinta a completa confusão gerada numa guerra civil:
Em 1974, uma revolução em Lisboa apanha de surpresa centenas de milhares de portugueses que vivem em Angola. A partir desse dia inicia-se a derrocada imparável de uma sociedade inteira que, tal como um navio a afundar-se, está condenada à destruição e à ruína. Em escassos meses, trezentos mil portugueses são obrigados a largar tudo e a fugir, embarcando numa ponte aérea e marítima que marca o maior êxodo da história deste povo. Para trás ficam as suas casas, os carros e até os animais de estimação. Empresas, fábricas, comércio e fazendas são abandonados enquanto Luanda, a capital da jóia da coroa do império português, é abalada por uma guerra civil que alastra ao resto do território angolano. Três movimentos de libertação, cujos exércitos estavam derrotados a 25 de Abril de 1974, estão novamente activos e combatem entre eles pelo poder deixado vazio pelas Forças Armadas portuguesas. É neste cenário de total desorientação social e de insegurança generalizada que Nuno, um aventureiro que há anos atravessa os céus do sertão angolano no seu avião, Regina e o filho de ambos se movem, numa extraordinária luta para sobreviverem à violência diária, às perseguições políticas, às intrigas e traições que fazem de Luanda uma cidade desesperada. Esta é a história de coragem e abnegação de um casal surpreendido, tal como milhares de outros, num processo de degradação que se deve à recusa do Exército em defender os seus próprios compatriotas a favor de um movimento até há pouco inimigo, ao desinteresse dos políticos, à total incapacidade do governo de Lisboa para impor os termos de um acordo assinado no Alvor e constantemente violado em Angola e à intervenção militar das duas potências mundiais envolvidas numa guerra fria que é combatida por intermédio dos exércitos regionais."

Tropas de todas as cores treinadas em Marrocos e Argélia que nunca tinhamos visto foram os autores de tanta violência, bagunça, confusão e morreram milhares de brancos, pretos e mulatos e na ponte aérea também vieram de todas as etnias.

daí eu dizer onde estava no dia 25 de Abril de 1974...e Rosa Coutinho foi para lá como vice-raio-que-o-parta e aquartelou-se numa fragata ao largo da baía de Luanda e pergunta a quem viveu lá que ordens é que ele deu...já que era um povo bem diferente de outras colónias onde o racismo colonizador era terrível.

Mesmo assim e ter vindo nos trezentos e há relatos de oitocentos mil que sairam de Angola e eu saí pela fome, pela guerra onde não sabia quem era quem e por uma filha de 6 meses. No mesmo avião vieram pretos mulatos e mestiços...porque numa guerra só não foge quem não pode.
Os meus pais e dois irmãos ficaram e só vieram muitos anos depois...e eram brancos e lutaram ao lado de pretos contra os "glutões vindos de fora!

Apesar de tudo isto valeu ter lutado contra uma ditadura e dizer 25 de Abril SEMPRE...mas hoje estão a enfiar-nos numa outra mas os mais jovens que lutem, porque já não tenho forças para fazer o que fiz...mas não desisto de ser quem sou!

Desculpa a extensão e longe de querer mudar a tua opinião, porque viver é uma coisa...contar o que ouviram é outra.

Um abraço respeitador

Jorge Pinheiro said...

Agradeço a todos os comentários e as experiências vividas. Destaco quem esteve "no terreno" e que aqui faz descrições bem sofridas do que foram esses tempos em Angola. Ao pé dessas experiências sinto-me um "menino de coro".

Anonymous said...

Faty, agradeço-lhe imensamente a transcrição mas, sinceramente lhe digo que este assunto cansa-me. Sabe aquela história de uma mãe que vai com a sua criança, de beleza rara, ao colo e quando alguém lhe elogia a lindeza da filha ela sempre responde "... e se vir as suas fotos ..." É mais ou menos por aí. Eu não preciso de ler porque também estava lá e sempre com muita atenção aos detalhes e aos acontecimentos. Não era nem nunca fui militar. Odeio fardas, armas e afins ...
Perguntou o Expresso onde estávamos no 25 de abril de 74. Nem ia responder pois, repito, já é assunto que me cansa, esse da descolonização. Cansa muito. Respondi-lhe porque sei que disse uma inverdade. Note, falamos no dia 25 de abril de 74. Há o antes, o próprio dia, e o depois.
No dia 25 de abril de 1974 não havia guerra civil em Luanda. A Faty já está no "depois". Se não acredita pergunte a quem sabe. Haverá por aqui muitos, ou mesmo fora daqui, que poderão elucidá-la. Mais uma vez desejo-lhe uma noite tranquila.

Fatyly said...

Ahhhh e digo-te com muito orgulho, fiquei imensamente feliz com o dia 11 de Novembro de 1975 e nesse dia desfraldei uma bandeira de Angola:), na janela da casa pequena onde vivia e imagina...no Brasil:)

Sou angolana com muita honra, estou em Portugal desde finais de 1978 (estive no Brasil de 75 a meados de 78) e se me caísse do seu mil e tal euros ia já para Luanda, embora não tenha nada de mal a dizer deste país que me acolheu, por onde trabalhei só deixei amigos(as) (lidei sempre com público, mas hoje com 61 anos, com 2 filhas, 2 genros e 4 netos...deixaria tudo e voltava JÁ! minha mãe fica tão triste e pergunta, mas se não tínhamos nada (até a casa era arrendada, tal como cá), para onde ias?
Mãe, cá sou uma sem-terra, lá seria uma sem abrigo, mas montava uma cubata no morro dos veados ou no Mussulo no extremo oposto ao palácio do presidente e viveria:):):)

O que mais me estranha é que ainda hoje permanece o sentimento angustiante de quando aterrei em Portugal e comecei do zero: estar dentro de uma caixa de fósforos.
Porque será?



Já fechei a gaveta dos horrores que vi e vivi...e já não falarei mais porque voltei a fechá-la:)

Adorei este bate-papo e desculpa porque não choro sobre leite derramado e vamos em frente e Angola ainda será o futuro de muita gente! Portugal também irá sair da crise, porque acredito e o meu optimismo não me deixa baixar os braços!!!

Anonymous said...

Faty, deixe-me só acrescentar uma coisa. Tivessem os portugueses que viviam em Angola não terem tido medo do "troco dos quinhentos anos" e.... sabe qual é a resposta, não sabe? Fugiram porque quiseram e eram livres para fazê-lo. Ninguém os obrigou a tanto a não ser o próprio medo. Quem ficou, ficou com muito menos do que aqueles que saíram. Disso pode ter a certeza. Refiro-me àqueles tempos, não aos de hoje. Deixaram-nos à míngua, sem nada, porque tudo levaram. O que não puderam levar queimaram. Minto?
Mas, pronto, já passou e sobrevivi. Com o fardo pesado do exílio que carrego, carrego também a imensa felicidade e orgulho de ter nascido em Angola e de ter sido naquele país, mesmo em tempos de absoluta miséria, fome e insegurança, que aprendi que a nem esperança nem os sonhos podem morrer antes de nós.
Páro aqui. Fique bem.

Li Ferreira Nhan said...

Jorge,
com a mais absoluta certeza quero afirmar que esta e as seguintes foram as postagens mais emocionantes que li desde que estou na blogosfera. É história viva!
Parabéns; você como um maestro deu os primeiros acordes e convidou aos outros músicos que continuassem a canção. E a orquestra tocou
"AONDE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL?"

Agradeço a todos que viveram esse momento e aqui deixaram o seu testemunho.
Foi importante ler cada um de vocês.
Saber de cada um nesse Portugal que é tb um pouquinho meu.
Saber de Angola onde tb sei dos meus poucos que não partiram.

Não vou julgar.
De maneira alguma não cabe aqui nenhum julgamento meu.
Seria polêmica inútil.
E afinal de contas a pergunta foi muito clara: "AONDE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL?"
Eu estava em São Paulo, Brasil.
Lembro do meu avô trasmontano ouvir a notícia pelo rádio e comentar que tudo ia ficar muito ruim em Portugal. E que no Lobito ficaria pior ainda.
Perguntei pq mas ele não respondeu.
Não dei muita importância.

Fatyly said...

Anónimo
Tens razão no que dizes, porque quando muitos partiram destruíram o que deixaram, inclusivé os carros e carrões (eu não tinha) com combustível e areia para quem pegasse...enfim. Um horror imperdoável...em vez de darem ...roubaram a alma de quem ficou!

Tudo o que tinha dei a um colega meu e à sua família e ele sempre me chamou "a branca mais preta de Angola", não fiz aos outros o que não queria que fizessem a mim. Partiu primeiro o meu ex-marido rumo ao BRasil e eu saí a 6 de Novembro, muito contrariada, enfurecida e triste, apenas pela fome, o medo já era... mas acreditando no "amor" (ele existe sim, mas...) lá fui.

Os meus ficaram mais quatro anos após a independência, o meu irmão entrou no exército angolano e aí só sei "pelo que me contaram". Por morte dele, os meus pais e uma irmã novita vieram de vez para Portugal.

Fico comovida e ainda dói ler relatos como o teu que respeito, já que a bagunça era total, todos eram portugueses mas tinha chegado a altura de Angola ser dos angolanos, tal como eu ainda hoje me considero angolana porque sou e termino com uma frase tua:

"aprendi que nem esperança nem os sonhos podem morrer antes de nós.
Páro aqui. Fique bem."

UM grande abraço e vamos em frente:)

daga said...

estava em casa com a minha filha bebé, não tinha ouvido rádio, não sabia de nada,o meu marido tinha saído normalmente para Lisboa como todos os dias... de repente o telefone toca-era o meu pai aflitíssimo "È a revolta das forças armadas"berrava (era militar)! liguei o rádio só se ouvia "Grandola vila morena"etc, e eu só imaginava sangue pelas ruas, a revolução francesa, a revolução russa! o meu marido não voltava, fui para a janela e as vizinhas todas contentes... ´`as vezes émelhor não saber nada de revoluções, não se tem medo que morra alguém... e assim foi - ninguém morreu e ficámos com esse bem precioso "liberdade" :)
mesmo que nem todos o sibam usar, é imprescindível para crescermos como seres humanos!