11.4.12

RECORDANDO POSTS - 25 DE ABRIL SEMPRE?

Há a ideia de que tudo era muito cinzento antes do “25 de Abril”. Não havia liberdade, não havia expressão, não havia divertimento, a criatividade era controlada. Era deus, pátria e família! Muita ordem e repressão. Tudo muito careta. Há a ideia que antes do “25 de Abril” a infelicidade nacional era completa e o isolamento total. Há a ideia que depois do “25 de Abril” todo mudou. Onde havia cinzento ficou encarnado. Onde havia desespero, virou paixão. A liberdade rebentou por todo o lado. Acabou a repressão. Toda a gente se passou a exprimir como queria e como não queria. A cada um sua expressão. A alegria inundou a rua. As pessoas, de repente, ficaram muito unidas e solidárias. As colónias libertaram-se partindo para os seus exóticos destinos. Penso que são ideias exageradas. A verdade estará algures entre a liberdade, a responsabilidade e cidadania. A democracia é uma conquista. Mas não passa de um regime. Também tem desmandos e perigos. O excesso de representatividade é um deles. Sendo o melhor que conhecemos, não devemos ficar satisfeitos e inertes. O antigo regime foi essencial para controlar a total balbúrdia da I República (1910). A revolução ditatorial de 28 de Maio de 1926 foi querida e desejada pelo povo, farto dos desmandos democráticos. Ser democrata era, então, pejorativo. Só alguns empedernidos maçons se mantiveram na deles. O povo ansiava ditadura, algo que os livrasse da bancarrota e da perda de dignidade nacional. Tudo é, pois, relativo. Só não foi relativo o tempo excessivo em que o antigo regime se manteve. A verdade, porém, é que os portugueses não têm cultura política. Nunca tiveram. Nem na monarquia, nem na república. Tem caciques e gente que segue os caciques. Impera a lei do menor esforço, do emprego público, da preguiça mental. Do receio de contrariar o poder, da falta de cidadania. Por isso a ditadura durou tanto. Poucos queriam deitá-la a baixo. Era cómodo como estava. Tudo certo, direitinho, controlado. As pessoas iam às suas vidinhas, papavam as hóstias e constituíam família. É evidente que com o “25 de Abril” ganhámos muito, independentemente da balbúrdia que se seguiu à revolução. Agora pergunto. Que importa termos imensa liberdade de expressão para nos esgotarmos a dizer mal “deles” sem agirmos no local e tempo certos? Que interessa podermos fazer o que queremos se o que queremos é não fazer nada? Mais, se não fosse a adesão à União Europeia, em 1986, ainda estaríamos neste regime? Duvido!

Post publicado no Expresso da Linha em Abril de 2009.

12 comments:

João Menéres said...

O seu dedo, JORGE, não falhou nenhuma tecla !
Parabéns por em dúzia e meia de linhas contar a "história".
Sabe bem como estou de acordo com a sua GRANDE ANÁLISE !

Um abraço.

myra said...

pouco sei da historia de Portugal, mas sim sei que o que escreve aqui pode ser tbem de MUITOS outros paises...

Fatyly said...

Posso subscrever? Tal e qual!!!

daga said...

Lindo texto :) não me lembro dele (deve ter sido naquela altura que eu ainda era criança ;)
mas a frase MELHOR que nos caracteriza de forma excepcional é: "Que interessa podermos fazer o que queremos se o que queremos é não fazer nada?" LOL fiquei a rir um tempo e isso faz-me bem!
beijo

byTONHO said...



"Português, brasileiro...
tudo farinha do mesmo saco!"

Não há o que não haja...

"Eu, sou GAÚCHO, dos pampas!"

:(:

Jorge Pinheiro said...

Tonho: e isso de ser gaúcho é um estado de espírito ou há alguma diferença do resto da "farinha"?

Jorge Pinheiro said...

Garça: é de abril de 2009... eu próprio já não me lembrava. Ando a viajar pelo próprio blogue.

Li Ferreira Nhan said...

Lembrei do meu avô naquele 25/4/1974.
Silencioso...
E os olhinhos dele...!
Não esqueço aquele olhar quieto.

Li Ferreira Nhan said...

Jorge,
conhece um filme (não sei o nome), acho que é uma produção francesa, feito logo após o 25/4/1974?
Entre outras coisas, filmaram os camponeses nas aldeias tentando entender o que vinha a ser o socialismo.
...Havia um diálogo acerca da "enxada" que era ótimo!
Parece que foi proibido em Portugal. Assisti num canal pago quando dos 30 ou 35 anos da revolução. Só passou uma única vez.
Vou ver se acho na net...

Jorge Pinheiro said...

Acho que não conheço.

byTONHO said...



Dizem que há uma pequena diferença do resto da farinha,
principalmente das farinhas do norte/nordeste,bahia...
reza a lenda que somos mais politizados, 'terra' de Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola, Érico Veríssimo, "Tonho" e alguns malditos "MILICOS de 64"!

:o)

Jorge Pinheiro said...

Tonho: mas isso é um continente... tinha de haver muitas diferenças. Até aqui entre nós "espanhóis" é uma confusão!