13.6.12

GERÊS - OUTRO MUNDO


O Minho não tem planícies. As subidas são descidas e quanto mais se desce mais se sobe. Tudo é abrupto. Tão abrupto que a beleza se espanta por existir tão imensa. Foram 600 km de curvas apertadas, suportadas em GPS com voz de Katia Vanessa, em versão erótica. Quase nunca nos perdemos até que, finalmente, nos perdemos irremediavelmente. Só depois de desligar o GPS nos apercebemos que há um país real pronto a dar informações. São moças simpáticas de olhar celta e cintura estreita que perdidas se perdem de nós. Homens que nos solicitam o favor de virar à esquerda e três rotundas depois novamente à mesma esquerda, para de seguida enveredarmos decididamente à direita, ainda antes da rotunda que posteriormente nos leva à terceira estrada que desce para baixo, antes de subir para cima. Gente que agradece ter dado a informação e nós ficamos sem jeito no embaraço de tanta delicadeza. A comida é saudável e simples. O arroz de sarrabulho, no sangue da cabidela, acompanhados a fressura e rojões do redanho fritos no unto da matança. As morcelas de sangue e as belouras amassadas. As tripas aos molhos e queijo terrincho que nos eleva para lá do roquefort. Os verdes são tintos e a digestão pode ser eterna na eloquência do arroto profundo. A paisagem dá vontade de pastar. Os cavalos são garranhos e os bois são barrosãs. A vida parou no tempo e sentimos que o tempo foge da vida. O Gerês é um local absolutamente único. Não há cinema. Não há museus. Não há teatros. Não há shoppings. O Gerês tem árvores, pedras e rios. Coisas esquecidas que teimamos em recordar. 

7 comments:

xunandinha said...

podes querer o Gerês é do mais puro que pode haver e em portela de homem é lindo viva o Minho,beijinhos

myra said...

viva este lugar!

Luísa said...

Um paraíso na terra, tratado e amparado por biólogos que vivem para o Parque Nacional!
Encheu a alma, mesmo!

Fatyly said...

e pena é que ultimamente ocorram tantos incêndios...criminosos!

Anonymous said...

Poesia pura
Antonião

Li Ferreira Nhan said...
This comment has been removed by the author.
Li Ferreira Nhan said...

P... m... Jorge!
Mais que texto lindo; puro amor, puro português!


(fui eu a deletar acima)