20.7.12

CANÁRIAS - O GENOCÍDIO


Após inúmeras disputas sobre a posse das Canárias, em 1479 com a assinatura do Tratado das Alcáçovas e, depois, do Tratado de  Toledo (1480), pôs-se fim às guerras pela soberania sobre as Canárias. Portugal prescindiu das ilhas em troca de todo o comércio para sul daquele paralelo. Só a partir daqui a Espanha conseguiu vencer e exterminar os guanches, que deixaram de contar com o apoio português. Aquando do início da conquista castelhana estima-se que haveria entre 30.000 e 35.000 guanches em Tenerife e entre 30.000 e 40.000 na Gran Canária, populações muito consideráveis face às características do território.
Sem embarcações nem capacidade bélica comparáveis, os guanches foram progressivamente retirando para as partes mais altas e acidentadas das ilhas, deixando o litoral aberto à colonização castelhana. As populações que iam sendo submetidas eram baptizadas e assimiladas à força. Outro grave problema que afectou os guanche foi a sua falta de imunidade a doenças que foram trazidas pelos colonizadores. As epidemias foram-se sucedendo, provocando perdas irreparáveis no efectivo populacional. A resistência guanche acabou por se concentrar em Tenerife e Gran Canária, onde as populações eram maiores, apenas terminando com o extermínio das últimas forças refugiadas nas montanhas. A partir da derrota de Doramas, um caudilho guanche, e da exterminação da resistência em Orotava, a submissão era inelutável, com alguns dos últimos resistentes a cometerem suicídio ritual, saltando de falésias.
A partir daí os povos guanche foram rapidamente assimilados, já que depois da guerra e das doenças, as populações remanescentes não puderam impedir a rápida miscigenação. Em meados do século XVI já a memória guanche começava a desaparecer. Estava consumado o genocídio.
Hoje, dos guanche pouco resta, embora o nacionalismo canário tente esforçadamente reviver a sua memória. Mesmo o estudo das suas múmias e restos arqueológicos pouco avançou em comparação com o estudo de povos bem mais remotos.

Na imagem, estátua em Tenerife de Bencomo, o "Rei Grande", símbolo da resistência guanche.

7 comments:

Paulo said...

Incrível. Ignorava essa história dos guanches. Já a miscigenação não me parece mal, essa treta da preservação da cultura e memória de uma povo cheira-me a racismo. Na miscigenação (mesmo que forçada) há sempre a adição de um contributo que enriquece a cultura dominante: ver história da Europa e das Américas, quem tem nostalgia dos hábitos culturais dos Alanos, dos Vândalos ou dos Suevos?

Jorge Pinheiro said...

Pois... mas escusavam de os matar assim à bruta.

daga said...

É uma verdadeira tristeza essa atitude de assassinos em nome da fé e da cultura!

Fatyly said...

A história é pautada de "genocídios"...possas e Portugal andou em tantas batalhas, tantos descobrimentos e com isso também fez tanta coisa mal feita. Apre!

Li Ferreira Nhan said...

É isso mesmo Fatyly; lamentavelmente "A história é pautada de "genocídios"".

E não só por "castelhanos"; também por portugueses, alemães, ingleses, franceses, holandeses, sérvios, judeus, brasileiros... A história continua.

Fatyly said...

Tal e qual Li...e na actualidade e numa União Europeia cada vez mais desunida, olha-se e obedece-se à ganância dos mercados & Compaª...e tá aí...o povo vai morrendo devagar devagarinho...à fome, com falta de assistência médica, desemprego, tristeza, angústia, depressões, criminalidade etc.etc. mas "os grandes sempre a salvo"...outro genocídio que está a tomar proporções dantescas.

A humanidade ou quem manda não aprende e ou aprendeu NADA com a história!

Um beijinho

Jorge Pinheiro said...

A humanidade é desconstrução.