Afinal a morte não existe. Existe apenas ausência. Mas existe também lembrança. As pessoas que amamos continuam a viver dentro de nós. Enquanto continuarmos a pensar nelas, elas existem. E quando nós morrermos alguém vai ficar a pensar em nós. E assim vamos eternizando a vida. Por isso a morte é um estado de alma. Vivemos para além da morte, porque ficamos dentro dos amigos. E os amigos passam a ser nós. Recordar quem morreu pode ser doloroso. Mas, se pensarmos que eles são parte de nós, então estamos a reviver. Mais do que um homenagem, comemorar os mortos é comemorar a nossa vida.
31.1.13
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13 comments:
Caro Jorge
Não posso estar mais de acordo com esta sua frase :
" Enquanto continuarmos a pensar nelas, elas existem."
Olhei para trás, e o Jorge tem toda a razão !
Só se não nos lembrarmos delas com uma frequência equivalente aquela com que com elas convíviamos, é que essas pessoas de facto partiram de nós.
E, graças a si, eu CONVIVI muito com o Roberto e pretendo conviver AINDA MAIS.
Se o conseguir, estou também a conviver com o FRANCISCO !
Um abraço.
( mais duas palavras coladas fizeram-me apagar o anterior )
Palavras, palavras, consolos, que a mim não consolam. A vida é uma só, individual, e em estado precário. O menor descuido, e ela se vai. O que fica na memória são imagens de uma vida que se foi. E para quem morreu, de nada adianta estar presente na memória.
Eduardo: para quem morreu nada a adianta coisa alguma. Para nós é a persistência da memória. A evocação que torna a morte menos dolorosa aos vivos.
Ando em silêncio pela falta de palavras...mas ando!
Beijinhos amigos, Jorge!
Sabermos guardar no coração todos os que nos são queridos e que já partiram, relembrá-los será sempre a melhor forma de fazermos "o luto" e com isso atenuar o vazio que deixaram...porque "recordar é viver".
Gostei do teu texto mas...
"Mais do que um homenagem, comemorar os mortos é comemorar a nossa vida." eu diria
Mais do que uma homenagem, relembrar os mortos é darmos mais sentido à nossa vida".
Fatyly: precisamente não quis dizer isso. Porque os mortos ficam a fazer parte da nossa vida. Porque eles deixaram de a ter.É assim que sinto hoje. Noutros dias, se calhar, sinto de forma diferente.
O buraco vazio que se faz quando alguém que amamos morre é tão infinitamente profundo que não há lembranças, recordações, memória, esperança de um provável reencontro, palavras de consolo e tantos outros paliativos que o consigam preencher. A morte é morte e ponto. Morre-se um pouco mais do que habitualmente morremos todos os dias. Talvez, a única coisa a preenchê-lo tenha o nome de Saudade. Ela terá a enormidade do buraco, ou, de tão grande, nele nem caberá.
Não sei lidar com a morte.
A morte de quem amamos nos obriga a um exercício diário, dolorido e ingrato de convivência com o vazio. Com um aprendizado obrigatório e revoltante de engolir garganta abaixo a ausência.
A ausência assume de fato o seu sentido literal, palpável e cruel.
Dia a dia pelejamos com as lembranças, as memórias... Então é a saudade que se faz presente com todo o seu peso; é quase um castigo.
Nunca soube lidar com a morte; ela é traiçoeira, egoísta e injusta.
Para mim que não acredito em Deus nem na vida eterna. A nossa morte não existe, quando morremos deixamos de sentir. Mas a a morte dos outros sim, porque os que ficam vivos continuam a sentir e a perspectiva de nunca mais podermos interagir com os que amámos é dolorosa. Realmente a única forma é como dizes: integrarmos a memória dos que se foram em nós próprios e partilhá-la com os amados vivos.
E é por isso que na nossa dificuldade em lidar com a morte dos outros que só temos duas hipóteses: fantasiar que os vamos encontrar lá nas estrelas à direita de Deus Pai ou integrá-los na nossa memória colectiva e comemorá-los sem medo, nem embaraço. Houve tempo em que tentava esquecer, atirar os mortos para a zona do esquecimento forçado. Tentava não pensar nisso. Hoje, em especial depois da morte do Roberto, quero glorificá-los. Aprendi a trabalhar com eles. E penso que, à minha maneira, aprendi a gerir a morte dos outros. Já a minha, ainda não.
eu acredito em Deus e na vida depois da morte (que tu chamas "fantasiar"), mas TAMBÉM comemoro os mortos, falo neles, recordo-os...uma hipótese não exclui a outra.
Claro que não. São tudo defesas.
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