27.3.13

A MORTE DA LAMPREIA - REFLEXÃO

A reportagem sobre a morte da lampreia não terá sido das mais populares aqui no Expresso da Linha. A verdade, porém, é que a gastronomia passa pela morte. E muitas vezes uma morte sangrenta. Desde pequeno que me lembro de ver perús embebedados pelo Natal, esperando a decapitação final. Galos decepados jorrando sangue directamente para o tacho da cabidela. Matanças de porco, esventrados de alto a baixo, com os fígados ainda a palpitar. Peixes aos saltos na agonia da asfixia. Perdizes estraçalhadas na ponta da caçadeira, estrebuchando na boca de perdigueiros amestrados. Isto sem falar da "higiénica" chacina de milhões de frangos e vacas que diariamente alimentam o Mundo. A morte da lampreia não é bonita, nem é rápida. Mas, tem de ser assim, porque senão era impossível cozinhá-la. Esta é a verdade da culinária. Comer é um acto canibal e sanguinolento. Pode-se falar em maior ou menor crueldade. Em mais ou menos sensibilidade. Em maior ou menor habituação. Mas, lá bem no fundo, tudo se resume a quem aguenta ver ou não. Porque comer, todos comemos.

9 comments:

João Menéres said...

Então, Jorge, não perca o filme
A ÚLTIMA VEZ QUE MACAU !!!
Vi-o ontem à noite.

Fatyly said...

Concordo contigo tudo vai de um hábito no qual não fui criada, porque nunca assisti à dita "matança tradicional de qualquer animal". Compro no talho ou peixaria porque tenho de comer.

Sabes Jorge ao olhar para as fotos recordei-me de cenários que me marcaram para toda a vida...matanças de homens contra ou sobre homens...e fico-me por aqui. Desculpa amigo!

Anonymous said...

Não há vida sem morte. Muito boa a série de posts.

daga said...

depois desta reflexão vou tornar-me vegetariana ;)

Jorge Pinheiro said...

Também eu... mas admito excepÇões.

Luísa said...

É melhor não refletir sobre a morte! Aceita-se e pronto!
Degustemos!

Jorge Pinheiro said...

Pois... a reflexão é só para abrir o apetite.

Anonymous said...

Boa bloguista! Já conseguiste prepará-los para as "lampreias de morte!"
Antonião

Jorge Pinheiro said...

A coisa está-se a compor. Que tal alemães de escabeche?