9.9.13

NENHURES - A ÉTICA


Segundo um conhecido eurodeputado parece que não há só uma ética. Há, pelo menos, três. Uma "ética-ética"; uma "ética-jurídica"; e uma "ética-politica". E elas não se misturam. Antes têm o seu tempo e modo específicos de intervir.

A "ética-ética" será uma ciência filosófica que se estuda em circuito fechado, sem qualquer interesse prático. Algo que se discute entre velhos gregos e alguns troianos infiltrados, no circuito bafiento do academismo. Serve para obter diplomas e deixar crescer a barba.

Já a "ética-jurídica" não é uma ciência. É um processo e, normalmente, demorado. Um processo cheio de armadilhas, requerimentos, providências cautelares e até alguma repristinação. Um processo de desfecho totalmente incerto. Tudo se passa no silêncio obscuro dos gabinetes judiciais, numa cadência ritual que nada tem a ver com a vida real. É, assim, uma coisa autónoma. A vida e a política, em especial, não podem esperar, nem estar dependentes desta "ética-jurídica". Aliás, não ter "ética-jurídica" não significa que não se tenha "ética-ética" ou "ética-política". Significa, apenas, que o processo judicial não correu bem, sabe-se lá porquê. Ele há tantas minudências judiciais…!

Finalmente temos a "ética-política". O princípio é este: só se é responsabilizado politicamente pelo voto. Portanto, mesmo que eu seja um professor de ética e um cidadão exemplar sem qualquer processo judicial, politicamente isso não interessa nada. Posso perfeita e legitimamente perder as eleições para um bandido profissional, desde que esse bandido seja político e o povo lhe dê mais votos. O povo é que define a ética de um candidato. E, repare-se no detalhe, o conceito só é definido a posteriori. Só depois das eleições sabemos se fulano é ético ou não, em função da votação. Algo que é, portanto, exógeno ao candidato. É o povo quem mais ordena e define a ética-política.

A verdade é que a abundância de arguidos e a demora dos tribunais em os julgar, não se compadece com a plena vivência política e o dinamismo democrático. Podemos agora estar seguros de que há sempre uma ética. Assim, os tribunais que sempre foram independentes, inamovíveis, inenarráveis, inantigíveis, inalienáveis e inconcebíveis, veem agora reforçados as suas incapacidades éticas, deixando de estar pressionados pelo "timing" da decisão e pela ética específica da coisa. Podem decidir como quiserem e quando quiserem. Eticamente é politicamente irrelevante!

3 comments:

Helena Oneto said...

Excelente 'billet" Jorge!
Em poucas linhas resumiste o essencial: o "povo" tem o presidente de câmara que merece! e mais: o mesmo "povo" tem o governo e o presidente da República que escolheu. Isto é a democracia que esta ao nosso alcance...
PS Bons banhos!

daga said...

os políticos não querem saber da ética porque o seu interesse é angariar votos de qualquer maneira possível! existem esporadicamente excepções que costumam ser eliminadas ... só sabemos "a posteriori" se a criatura é ética ou não pois desconhecíamos as suas intenções e só podemos julgar pelos resultados das suas ações. Acho que ética e política raramente se encontram.

Fatyly said...

Oxalá que a "ética" exista em nenhures:) porque...olha...subscrevo inteiramente!