Segundo um conhecido
eurodeputado parece que não há só uma ética. Há, pelo menos, três. Uma
"ética-ética"; uma "ética-jurídica"; e uma
"ética-politica". E elas não se misturam. Antes têm o seu tempo e
modo específicos de intervir.
A
"ética-ética" será uma ciência filosófica que se estuda em circuito
fechado, sem qualquer interesse prático. Algo que se discute entre velhos
gregos e alguns troianos infiltrados, no circuito bafiento do academismo. Serve
para obter diplomas e deixar crescer a barba.
Já a
"ética-jurídica" não é uma ciência. É um processo e, normalmente,
demorado. Um processo cheio de armadilhas, requerimentos, providências
cautelares e até alguma repristinação. Um processo de desfecho totalmente
incerto. Tudo se passa no silêncio obscuro dos gabinetes judiciais, numa
cadência ritual que nada tem a ver com a vida real. É, assim, uma coisa
autónoma. A vida e a política, em especial, não podem esperar, nem estar
dependentes desta "ética-jurídica". Aliás, não ter
"ética-jurídica" não significa que não se tenha
"ética-ética" ou "ética-política". Significa, apenas, que o
processo judicial não correu bem, sabe-se lá porquê. Ele há tantas minudências
judiciais…!
Finalmente
temos a "ética-política". O princípio é este: só se é responsabilizado
politicamente pelo voto. Portanto, mesmo que eu seja um professor de ética e um
cidadão exemplar sem qualquer processo judicial, politicamente isso não
interessa nada. Posso perfeita e legitimamente perder as eleições para um
bandido profissional, desde que esse bandido seja político e o povo lhe dê mais
votos. O povo é que define a ética de um candidato. E, repare-se no detalhe, o
conceito só é definido a posteriori.
Só depois das eleições sabemos se fulano é ético ou não, em função da votação.
Algo que é, portanto, exógeno ao candidato. É o povo quem mais ordena e define
a ética-política.
A verdade é
que a abundância de arguidos e a demora dos tribunais em os julgar, não se
compadece com a plena vivência política e o dinamismo democrático. Podemos
agora estar seguros de que há sempre uma ética. Assim, os tribunais que sempre
foram independentes, inamovíveis, inenarráveis, inantigíveis, inalienáveis e
inconcebíveis, veem agora reforçados as suas incapacidades éticas, deixando de
estar pressionados pelo "timing" da decisão e pela ética específica
da coisa. Podem decidir como quiserem e quando quiserem. Eticamente é
politicamente irrelevante!
3 comments:
Excelente 'billet" Jorge!
Em poucas linhas resumiste o essencial: o "povo" tem o presidente de câmara que merece! e mais: o mesmo "povo" tem o governo e o presidente da República que escolheu. Isto é a democracia que esta ao nosso alcance...
PS Bons banhos!
os políticos não querem saber da ética porque o seu interesse é angariar votos de qualquer maneira possível! existem esporadicamente excepções que costumam ser eliminadas ... só sabemos "a posteriori" se a criatura é ética ou não pois desconhecíamos as suas intenções e só podemos julgar pelos resultados das suas ações. Acho que ética e política raramente se encontram.
Oxalá que a "ética" exista em nenhures:) porque...olha...subscrevo inteiramente!
Post a Comment