26.10.13

OPERAÇÃO CAÇÃO - XIV


No mercado o trabalho começara cedo. Vivaldo abriu a banca. Tinha comprado na lota uns quilos de besugos e sargos, um lote de linguados legítimos e um cação de médio porte. O cação não pesaria menos de cinco quilos. Não era frequente aparecerem cações por ali. Um peixe estranho e muito disputado pelos bons gourmets. Da família do tubarão. Tal como o tubarão, engolem tudo o que lhes passa à frente. Já foram encontradas as coisas mais extraordinárias nas entranhas daqueles bichos. Vivaldo pegou na faca afiada e abriu o bojo do cação. As vísceras entornaram-se pela bancada de mármore, espalhando um cheiro intenso a sangue venoso. Um sangue escuro e denso. Restos de peixe em decomposição, espinhas quebradas e conchas, areia fina, pequenos seixos e... um cartão de telemóvel. Vivaldo ficou estupefacto. Virou-se para o colega do lado: “Olha lá, Viegas, já viste este? O bicho tinha telemóvel!”. “Não deites fora, pá, pode ser que tenha mensagens a chamar os primos”, retorquiu o Viegas  rindo alto. Vivaldo meteu o cartão no bolso e nunca mais pensou nisso.
(Continua)

4 comments:

João Menéres said...

Mas, quando estivesse mais tranquilo ,iria querer saber
quem tinha sido a jeitosa que o cação papara !

Anonymous said...

Como o texto já era muito bom, ficou melhor ilustrado pelo próprio autor.

myra said...

ai, me da coisa esta foto:)

daga said...

uma imaginação muito "policial", muito suspense...e a foto - espetáculo! quantos anéis tem o Vivaldo ;)