No mercado o trabalho começara cedo. Vivaldo abriu a banca. Tinha
comprado na lota uns quilos de besugos e sargos, um lote de linguados legítimos
e um cação de médio porte. O cação não pesaria menos de cinco quilos. Não era
frequente aparecerem cações por ali. Um peixe estranho e muito disputado pelos
bons gourmets. Da família do tubarão. Tal como o tubarão, engolem tudo o que
lhes passa à frente. Já foram encontradas as coisas mais extraordinárias nas
entranhas daqueles bichos. Vivaldo pegou na faca afiada e abriu o bojo do
cação. As vísceras entornaram-se pela bancada de mármore, espalhando um cheiro
intenso a sangue venoso. Um sangue escuro e denso. Restos de peixe em
decomposição, espinhas quebradas e conchas, areia fina, pequenos seixos e... um
cartão de telemóvel. Vivaldo ficou estupefacto. Virou-se para o colega do lado:
“Olha lá, Viegas, já viste este? O bicho tinha telemóvel!”. “Não deites
fora, pá, pode ser que tenha mensagens a chamar os primos”, retorquiu o
Viegas rindo alto. Vivaldo meteu o
cartão no bolso e nunca mais pensou nisso.
(Continua)
26.10.13
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4 comments:
Mas, quando estivesse mais tranquilo ,iria querer saber
quem tinha sido a jeitosa que o cação papara !
Como o texto já era muito bom, ficou melhor ilustrado pelo próprio autor.
ai, me da coisa esta foto:)
uma imaginação muito "policial", muito suspense...e a foto - espetáculo! quantos anéis tem o Vivaldo ;)
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