23.1.17

COMIGO MESMO - XLIII

Mas se hoje tenho saudades, naquele tempo de adolescência não era bem assim. A bem dizer, era uma enorme estucha ter de fazer aqueles tremendos 580 km para lá e outros tantos para cá. Tudo sem autoestradas, nem telemóveis, nem sequer GPS. Íamos pela velhinha Estrada da Beira: Mangualde, Celorico da Beira, Foz Côa, Pocinho…, cortando o país ao meio.
Recordo os quarenta graus à sombra. A frescura do feldespato. O cheiro ácido a porco vindo lá dos "fundos", ...
misturado com o cheiro perfumado de maçãs bravo de Esmolfe que enchiam a salinha do rés-do chão. As primas, Luísa e Guida, filhas do tio Amilcar (irmão da minha mãe), com quem brincava aos médicos na obscuridade ominosa da cave brigantina. Recordo moscas, muitas moscas. Moscas que apanhava à mão, em holocaustos diários. Desenvolvi uma técnica muito peculiar que ainda hoje domino e que por facilidade de expressão, denominarei de técnica da “mão-húmida”.
Na casa ao lado, o meu tio-avô Abílio (da parte do meu pai) mantinha uma mercearia com loja para estacionamento de burros em trânsito com pessoal de Gimonde, Carrazeda e Sacóias.
Às 17h tinha lição de acordeão nas freirinhas. O método era 1-2-3-4-5-6-7. Cada número sua nota, cada nota seu número. Não cheguei a perceber quem era mi, porquê si, muito menos onde era lá.

2 comments:

João Menéres said...

Então também brincava aos médicos com as primas...
E não era o melhor das férias se calhar ?...
Essa brincadeira encaminhou-o 6 para Direito...

Anonymous said...

Adolescência e suas terríveis memórias