28.1.17

COMIGO MESMO - XLVIII

Os meus pais sempre tiveram uma vida profissional intensa. Quando olho para trás, percebo que não tive uma infância “normal” para a época. Naquele tempo, as mães ficavam em casa a tomar conta dos filhos. Não foi o que se passou comigo.
A minha mãe licenciou-se em Farmácia, na Universidade do Porto, em 1943. A partir de Janeiro de 1947 (portanto ainda antes de se ter casado), entrou para o quadro do Instituto Superior de Higiene - Dr. Ricardo Jorge, onde viria a fazer toda a carreira, até à reforma em 1990.
A sua actividade foi sempre na área da bacteriologia sanitária. O quadro de pessoal, nesta área, era então muito reduzido. Era uma área ainda muito embrionária. A minha mãe trabalhou sobre a direcção do Dr. Arnaldo Sampaio (pai do futuro Presidente da República, Jorge Sampaio). A esse pequeno grupo, quase pioneiro, se deve a importância que a bacteriologia viria a ter em Portugal. Um trabalho apaixonante que em muito ultrapassava o simples emprego. A minha mãe era uma investigadora.
Logo em 1954, ela foi bolseira da OMS (Organização Mundial de Saúde). O estágio foi em Paris no Instituto Pasteur, no Instituto Alfred-Fournier e no Hospital Saint-Lazare, para aperfeiçoamento das novas técnicas de Imunologia e Serologia da sífilis. Em 1960, durante 6 meses, voltaria a Paris e ao Instituto Pasteur, onde trabalhou na investigação sobre o Treponema Reiter e do Treponema pallidum (este último responsável pela sífilis). Em Fevereiro de 1970, novamente em Paris, novo estágio no Instituto Alfred-Founier, para aperfeiçoamento das técnicas de Imunofluorescência. Aí voltaria em 1978, para actualização dos métodos de diagnóstico da sífilis.
A minha mãe conta repetidamente a história da surpresa dos médicos quando aparecia uma jovem senhora a falar de sífilis nas aulas de saúde pública. A minha mãe sempre foi muito "avançada".

2 comments:

João Menéres said...

E por isso teve um filho muito avançado também !

Anonymous said...

Agora entendo sua mania com doenças...srsrs